O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, propôs nesta quarta-feira (07/06) a criação de uma comissão internacional para investigar o ataque à barragem hidrelétrica de Kakhovka, na região de Kherson, ocupada pelas tropas russas no sul da Ucrânia.
“O presidente disse que uma comissão poderia ser estabelecida com a participação de especialistas em conflitos das duas partes, das Nações Unidas e da comunidade internacional, incluindo a Turquia, para uma investigação detalhada sobre a explosão na barragem de Kakhovka”, informou o gabinete de Erdogan.
O turco mencionou a ideia durante uma ligação com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Durante a conversa, Erdogan acrescentou que Ancara “está pronta” para fazer sua parte a fim de garantir a paz entre Moscou e Kiev.
O mandatário turco sugeriu um método de negociação para o incidente na barragem semelhante ao acordo para exportação de grãos pelo Mar Negro, ao qual a Turquia também é mediadora.
Erdogan também conversou nesta quarta-feira com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para falar sobre a situação depois da parcial destruição de Kakhovka.
Putin descreveu o ataque contra a barragem de Kakhovka como um “ato bárbaro”, que provocou “uma grande catástrofe ambiental e humanitária”.
O presidente da Rússia ainda denunciou, em ligação com Erdogan, que a Ucrânia realiza “um perigoso aumento das hostilidades através da execução de crimes de guerra e sabotagem em território russo.
Consequências do ataque
Diante da situação, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) declarou que a destruição parcial da barragem provocará “enormes consequências”.
“A gravidade deste episódio será compreensível nos próximos dias, mas já está claro que terá enormes consequências para milhares de pessoas”, declarou o chefe de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, em reunião de emergência após o incidente.
Griffiths ressaltou ainda que a comunidade internacional está “muito preocupada com o risco de contaminação das minas com o movimento da água”, que pode afetar cerca de 30% do território ucraniano.
De acordo com o representante da ONU, “não ser capaz de levar ajuda a milhares de pessoas que precisam de assistência pode ser catastrófico”.
Apesar da dinâmica do incidente ainda não ser clara, a explosão abriu um grande buraco na barragem, localizada no rio Dnipro, na província de Kherson.
A Ucrânia acusa a Rússia de ter explodido a barragem de propósito para impedir que suas tropas atravessem o rio, já Moscou diz que o local foi “parcialmente destruído por bombardeios” de Kiev.
Twitter/ Володимир Зеленський
Cidades localizadas nas proximidades da represa foram tomadas pela água, e centenas de pessoas já foram evacuadas
As cidades localizadas nas proximidades da represa foram tomadas pela água, e centenas de pessoas já foram evacuadas.
As autoridades locais russas decretaram nesta quarta-feira Estado de Emergência na província de Kherson, devido às inundações provocadas pelo ataque à barragem, que deixou um saldo de 2.700 casas inundadas.
Segundo o governador interino russo de Kherson, Vladimir Saldo, estimativas preliminares preveem que entre 22.000 e 40.000 pessoas seriam afetadas pelas enchentes.
Autoridades russas também informaram que cerca de 100 pessoas estão presas nos arredores da barragem devido à inundação, sete pessoas estão desaparecidas e milhares de animais do parque nacional de Nizhnedneprovsk, próximo às localidades da barragem, morreram.
Desde o ataque, o nível da água na cidade de Kakhovka caiu pelo menos 35 centímetros, após registrar até 12 metros em alguns lugares da cidade. Especialistas apontam que a água pode recuar totalmente em sete dias.
Sabotagem de oleoduto em Kharkov
Na esteira do ataque à barragem e às acusações, o Ministério da Defesa da Rússia denunciou também nesta quarta-feira (07/06) que tropas ucranianas sabotaram um oleoduto que fornece amoníaco ao porto de Odessa, cuja operação permite a prorrogação do acordo de exportação de cereais a partir dos portos do Mar Negro.
De acordo com o comunicado do ministério, um grupo de sabotagem e reconhecimento explodiu o oleoduto Togliatti-Odesa perto da cidade de Masiutovka, na província de Kharkov, às 21h do horário local.
“Como consequência desse ato terrorista, houve vítimas civis. Eles receberam a ajuda médica necessária”, acrescentou o comunicado, observando que os resíduos de amônia que foram transportados pelo território ucraniano estão escapando para a atmosfera pelos trechos danificados do oleoduto.
O chefe da administração regional de Kharkov, Oleg Sinegubov, relatou seis explosões no oleoduto e destacou que “as medições não detectam vestígios de amônia no ar nas cidades de Kupyánsk”.
Já a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, informou em conferência de imprensa que levará entre um a três meses a reparação do oleoduto.
Ela também denunciou que apesar de “Zelensky dizer que poderia resolver o problema, não significa que ele está pronto para retomar o transporte de amônia”.
Zakharova descreveu o ataque como um “golpe na luta contra a fome”, uma vez que o oleoduto tem capacidade para bombear dois milhões de toneladas de amoníaco, com o qual poderiam ser feitos fertilizantes suficientes para produzir alimentos para 45 milhões de pessoas.
A amônia é um gás irritante e corrosivo. A intoxicação pode causar lesões cutâneas, oculares e respiratórias e pode ser fatal, dependendo da concentração da substância e do tempo de exposição.
(*) Com Ansa e TeleSUR