Iniciada em fevereiro de 2022, a ofensiva russa contra a Ucrânia perdura por 500 dias. Uma saída para o conflito está constantemente sendo debatida nas cúpulas internacionais, e também pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que defende a necessidade de diálogo entre as partes para um acordo de paz.
Desde que voltou ao Palácio do Planalto pela terceira vez, Lula declara neutralidade do Brasil perante o conflito, dizendo que diálogos e negociações pela paz são “as únicas saídas viáveis para a crise”. O posicionamento do brasileiro é considerado positivo pelo Kremlin.
Com exclusividade a Opera Mundi, a chefe do Departamento de Relações Internacionais do Rússia Unida, Valeriya Gorokhova, disse que o governo de Vladimir Putin agradece a “iniciativa” de Lula.
De acordo com a representante do partido de Putin, a Rússia apoia “iniciativas que venham de nossos amigos do Brasil, China e da União Africana”.
As três regiões destacadas por Gorokhova já anunciaram possibilidades de planos de paz, e também enviaram missões aos países em conflito com o intuito de apresentar soluções. A mais recente dessas ações foi a da delegação africana, liderada pelo presidente da África do Sul, Cyrill Ramaphosa, que esteve em Kiev e Moscou. À época, Putin disse que a comissão teve uma “abordagem equilibrada” para fim do conflito.
“Precisaremos do apoio de nossos amigos para resolver esse conflito pacificamente, o mais rápido possível, e todos nós estamos interessados nisso. Portanto, muito obrigado ao presidente Lula por sua iniciativa”, disse Gorokhova a Opera Mundi.
A líder do Rússia Unida lembrou que a guerra na Ucrânia “tem afetado muitos países em todo o mundo”. No entanto, ela destacou que, “sem negociações, será muito difícil resolvê-la”, e criticou a postura de Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, de evitar dialogar com o governo russo, causando um impasse no encerramento da ofensiva.
“O sr. Zelensky, na verdade, disse que agora as negociações não são possíveis. Eles não querem conversar conosco e, é claro, precisaremos do apoio de nossos amigos para resolver esse conflito”, declarou.
A conversa com a representante do Rússia Unida ocorreu no âmbito do 26º encontro do Foro de São Paulo, em Brasília. O partido de Putin foi uma das legendas convidadas pela articulação. No evento, Gorokhova aproveitou seu discurso na plenária final para condenar a “ordem imperialista”, convidando os países do Sul Global ao fórum patrocinado por Moscou contra o neocolonialismo.
TASS / Ricardo Stuckert
Putin e Lula terão seu primeiro encontro pessoal este ano em agosto, durante a Cúpula do Brics, na África do Sul
Enfrentando as sanções ocidentais
Por conta da ofensiva, o governo russo sofreu diversas represálias, incluindo uma série de sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e União Europeia. Questionada por Opera Mundi sobre como o país está lidando com essas imposições, Gorokhova disse que a economia russa está “se saindo bem”.
De acordo com ela, os países do Ocidente decretaram mais de 2,7 mil sanções contra Moscou desde o início da guerra, tornando-o o segundo país mais sancionado no mundo, atrás apenas de Cuba. “É claro que não estávamos preparados para uma quantidade tão grande, mas acho que agora estamos”, disse.
Na verdade, para a chefe do departamento de Relações Internacionais do Rússia Unida, as sanções “ajudaram” Moscou a “desenvolver a economia”, “porque começamos a produzir mais produtos próprios”.
Outro tipo de medida que, segundo Gorokhova, não afetou a economia russa foi o fechamento de algumas lojas, como a Zara ou a Nike: “é claro que isso é uma coisa muito engraçada. Quero dizer, não é assim que deve ser feito”.
“E, até agora, eu não diria que o impacto dessas sanções foi muito forte, porque eles estavam dizendo que, por exemplo, se eles desligassem o Instagram ou Facebook do uso russo, as pessoas iriam as ruas (em protesto), mas eles não conhecem bem o povo russo, pois não há uma influência tão grande (dessas plataformas) sobre nós”, afirmou.
‘Máximo de diálogo’: alianças na América Latina
À reportagem, Gorokhova defendeu a necessidade de que a Rússia mantenha o “máximo de diálogo” com países parceiros, ainda mais, para ela, quando a “situação geopolítica está mudando”.
Temos muitos contatos com os países latino-americanos, principalmente, é claro, com o Brasil, Cuba, com a Nicarágua, Bolívia, Venezuela e Argentina“, disse.
O partido de Putin entende que o diálogo com os países latino-americanos é primordial para as cooperações, pois “alguns meios de comunicação de massa, por exemplo, na Europa e nos Estados Unidos, eles mostram às pessoas apenas uma versão, e na Rússia temos notícias absolutamente diferentes”, afirmou Gorokhova a Opera Mundi, declarando que o “contato direto” ajuda a “resolver essa situação difícil que todos nós estamos enfrentando”.