Em seu segundo dia de visita à China, nesta quinta-feira (06/04), o presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniu com o primeiro-ministro chinês Li Qiang e com o presidente, Xi Jinping, reeleito há menos de um mês para um terceiro mandato. O governo francês acredita que os chineses podem desempenhar um papel essencial na resolução do conflito ucraniano.
Em Pequim, o chefe de Estado francês disse que contava com o presidente chinês para “trazer a Rússia de volta à razão” em relação à guerra da Ucrânia.
A China se apresenta oficialmente como neutra em relação ao conflito, que teve início em 24 de fevereiro de 2022. Durante visita à Rússia, em março, Xi Jinping se mostrou próximo do presidente russo, Vladimir Putin e por isso Macron espera que o líder chinês possa obter uma “pausa” na guerra na Ucrânia.
“Sei que posso contar com você para trazer a Rússia de volta à razão e todos à mesa de negociações”, disse o presidente francês, durante a reunião bilateral em Pequim. A França e a China defendem negociações de paz. “Uma retomada das discussões o mais rápido possível para construir uma paz duradoura” é necessária, disse o presidente francês. Já Xi Jinping pediu “uma retomada das negociações o mais rapidamente possível”.
Je suis convaincu que la Chine a un rôle majeur à jouer dans la construction de la paix. Voilà ce sur quoi je viens échanger, avancer. Avec le Président XI Jinping, nous allons parler aussi de nos entreprises, du climat et de la biodiversité, de la sécurité alimentaire.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) April 6, 2023
Não às armas nucleares
Após a cerimônia oficial da visita de Estado, diante das tropas chinesas perto da Praça Tiananmen, hinos nacionais e 21 tiros de canhão, os dois líderes tentaram mostrar uma certa convergência de pontos de vista.
Macron e Xi Jinping rejeitaram abertamente qualquer recurso a armas nucleares. A ameaça foi feita pelo Kremlin em várias ocasiões. “As armas nucleares não podem ser usadas”, disse Xi Jinping, que também condenou qualquer “ataque a civis” e o “uso de armas biológicas e químicas”.
Para Emmanuel Macron, “a energia nuclear, obviamente, deve ser totalmente excluída do conflito”. A conversa entre os dois foi “franca e construtiva”, segundo a Presidência francesa.
Twitter/Eliseu
Governo francês acredita que chineses podem desempenhar papel essencial na resolução do conflito ucraniano
A Rússia deixou claro que exclui qualquer mediação de Pequim no conflito ucraniano. “A China tem um potencial tremendo e eficaz em mediações. Mas a situação com a Ucrânia é complexa, não há perspectiva de um acordo político. E, no momento, não temos outra solução senão continuar a operação militar especial”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ao ser questionado pela imprensa sobre a possibilidade de um acordo de paz.
Europa como terceira via
O nome do general Charles De Gaulle, admirado pelos chineses, é relembrado em todas as visitas oficiais francesas. A França foi o primeiro país ocidental a estabelecer relações diplomáticas com a China de Mao-Tsé Tung, em 1964, data que será celebrada no próximo ano, lembrou Macron, na quarta-feira (05/04).
A visita do presidente francês também foi analisada pela imprensa local e internacional. “Os chineses sempre apreciaram a autonomia estratégica e a diplomacia independente da França em meio à turbulência internacional”, escreve o jornalista chinês Huanqiu Shibao. Na prática, isso se traduz por uma França independente dos Estados Unidos e que tenta “restaurar a Europa como uma terceira via entre os Estados Unidos e a China”, avalia.
Este conceito de “terceira via” teria sido sugerido por um “executivo do gabinete da Presidência francesa”, de acordo com Cankao Xiaoxi, do Courrier Internacional, especificando que essa “outra via” difere da atitude de oposição sistemática demonstrada pelos Estados Unidos”. O problema, observa, é que o cenário político não é o mesmo de 1964, e a invasão da Ucrânia pela Rússia mudou o contexto geopolítico internacional.
Macron observa que a China, devido à sua proximidade com a Rússia, “pode desempenhar um papel importante”, na Ucrânia. Mas também lembrou ao presidente chinês que “quem ajudar o agressor – fornecendo armas a Moscou – se colocaria como cúmplice na violação do direito internacional”.
Relações econômicas
Os dois países também buscam reativar as relações econômicas. Macron viajou à China acompanhado de dezenas de empresários franceses e tem tentado evitar situações polêmicas . Na quarta-feira, os jornalistas não puderam fotografar o presidente diante de uma obra de arte com uma rede de pesca cheia de máscaras da covid-19, em um museu ao norte de Pequim, porque isso poderia incomodar o governo chinês.O acesso para jornalistas estrangeiros que participam da cobertura é limitado.