O Ministério das Relações Exteriores do Brasil afirmou nesta sexta-feira (14/04), último dia de viagem do presidente Lula à China, que acordou com o governo de Pequim a necessidade de “diálogo e negociação” como “única saída viável para a crise na Ucrânia”.
Por meio da Declaração Conjunta entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre o Aprofundamento da Parceria Estratégica Global, documento publicado no site do governo brasileiro, Pequim e Brasília aceitaram as sugestões que cada país vem apresentando para a guerra iniciada em 24 de fevereiro de 2022.
“O Brasil recebeu positivamente a proposta chinesa que oferece reflexões conducentes à busca de uma saída pacífica para a crise. A China recebeu positivamente os esforços do Brasil em prol da paz”, informa o documento.
Pequim e Brasília também apelaram “a que mais países desempenhem papel construtivo para a promoção da solução política da crise na Ucrânia e que todos os esforços conducentes à solução pacífica da crise devem ser encorajados e apoiados”, acordando que devem “manter os contatos sobre o assunto”.
Paz, neutralidade e voto condenatório na ONU
Com discurso de paz, em um encontro com o chanceler alemão Olaf Scholz realizado em janeiro passado, Lula defendeu a criação de uma comissão de países e lideranças mundiais para intermediar e negociar de forma pacífica o conflito entre Moscou e Kiev.
Na mesma ocasião, Lula também vetou o envio de munições brasileiras para a Ucrânia, afirmando ser uma atitude que faria o Brasil “entrar na guerra”.
A mesma postura foi reiterada pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, na Conferência de Segurança de Munique em fevereiro. De acordo com a agência de notícias alemã DPA, Vieira afirmou que “em vez de participar de uma guerra, preferimos falar de paz”.
A posição de neutralidade dos países latino-americanos em relação à guerra na Ucrânia é presente na política exterior de Lula, também levando em consideração o histórico brasileiro de proximidade com Moscou. Apesar disso, vale mencionar o voto favorável de Brasília na resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), ao lado de países como os Estados Unidos e da União Europeia, condenando a Rússia pelo conflito.
A decisão exigia a imediata retirada das tropas russas dos territórios ucranianos e questionou a política de neutralidade do governo Lula em relação ao conflito.
Ricardo Stuckert
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro com presidente da China, Xi Jinping
Diálogo e alinhamento a Moscou
A China apresentou em 24 de fevereiro de 2023, quando a guerra na Ucrânia completou um ano, um documento indicando 12 pontos como um plano de solução do conflito, entre eles o respeito à soberania e integridade territorial de todos os países e o diálogo direto entre Moscou e Kiev.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, além de elogiar a posição “equilibrada” de Xi Jinping quanto à guerra, também afirmou que considerou o plano de paz sugerido por Pequim.
Em alinhamento com Putin, antes mesmo do início do conflito, a China declarou que “certas potências” [referindo-se aos Estados Unidos] tentam “reviver a mentalidade da Guerra Fria e fomentar o confronto entre blocos”.
Além disso, Pequim acredita que a imposição de sanções econômicas norte-americanas e europeias contra Moscou é uma barreira para que a crise seja resolvida, pedindo pelo fim dos embargos.
Por sua vez, a China se absteve na mesma votação que o Brasil se mostrou favorável à condenação da Rússia nas Nações Unidas. Além disso, exigiu que as negociações de paz entre Kiev e Moscou fossem retomadas por meio do “diálogo”.
A mesma postura foi mantida na 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro passado, quando Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, demonstrou uma posição moderada sobre a guerra na Ucrânia e convocou as partes envolvidas diretamente no conflito “ao diálogo”.
Lula e Xi Jinping
Lula esteve em Pequim nesta sexta-feira (14/04) e se reuniu com o líder chinês, Xi Jinping, onde as autoridades de ambos países assinaram ao todo 15 acordos bilaterais.
Lula e seu homólogo chinês tiveram uma reunião ampliada e partiram, em seguida, para uma conversa privada. Ambos participaram de um ato público, onde firmaram acordos e seguiram para um jantar oferecido por Xi.
Os acordos bilaterais entre os dois países envolvem diversos âmbitos, como turismo, alimentos, meio ambiente, ciência e tecnologia, aeroespacial, finanças, entre outros. Além desses pontos, outro assunto esperado é o possível acordo para a realização de transações comerciais diretamente em real e yuan, suprimindo a utilização do dólar norte-americano como moeda intermediária e facilitando o comércio entre os dois países.