A Rússia bloqueou nesta sexta-feira (27/08) um acordo nas Nações Unidas destinado a reforçar o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) porque Moscou se opôs a uma cláusula a respeito da ocupação da usina de Zaporíjia, na Ucrânia.
No final de quase um mês de discussões e depois de várias horas de prolongado debate em busca de um consenso, a 10.ª conferência de revisão do TNP chegou ao fim sem adotar o documento final, por conta das objeções russas.
A delegação de Moscou foi a única a tomar a palavra na sessão final para se opor ao último rascunho, apresentado pelo presidente da conferência, o argentino Gustavo Zlauvinen, e que os restantes 191 signatários do TNP estavam dispostos a aceitar.
A Rússia alegou que, de todo o extenso documento, só encontrava problemas em cinco parágrafos, por considerar “serem politizados”. Apesar de a delegação russa não ter indicado quais eram esses pontos, fontes diplomáticas disseram que as divergências, surgidas nas últimas horas centraram-se nas referências à situação na central nuclear ucraniana em Zaporíjia e na necessidade do controle ser devolvido às autoridades competentes.
South Korea Defense Ministry/AP Photo/picture alliance
Moscou foi contra acordo que os restantes 191 signatários do TNP se dispuseram a aceitar
Alertas sobre possível desastre nuclear
A central atômica, a maior da Europa, foi tomada pelas tropas russas em março e nos últimos dias tem sido alvo de repetidos ataques, pelos quais Moscou e Kiev se acusam mutuamente e que geraram alarmes sobre um possível desastre nuclear.
O último deles ocorreu nesta quinta-feira, quando a usina ficou temporariamente separada da rede elétrica ucraniana, mas a conexão foi posteriormente restaurada. As forças russas estão planejando retirar a usina da rede energética de forma mais permanente, fazendo crescer a preocupação internacional.
A ampla declaração final negociada como conclusão da conferência reviu a implementação do TNP e estabeleceu prioridades para o futuro, num momento em que a ONU alerta sobre o risco de um conflito nuclear.
“Estamos num momento da história em que o nosso mundo está cada vez mais embalado pelo conflito e, o mais alarmante, pela perspectiva crescente do impensável: a guerra nuclear. Neste momento, é imperativo que procuremos ampliar o que nos une, não o que nos divide”, disse o presidente da conferência, minutos antes de a Rússia ter bloqueado o texto.
Embora a guerra na Ucrânia tenha tornado esta reunião particularmente complicada, não é a primeira vez que a revisão periódica do TNP é encerrada sem consenso, já que o mesmo ocorreu na última edição, realizada há sete anos.