A Rússia acusou a Ucrânia nesta segunda-feira (22/08) de ser responsável pela morte da jornalista e cientista política russa Daria Dugina. No fim de semana, Kiev já alertava para o risco de represálias após o assassinato da jovem de 29 anos, que é filha de um influente ideólogo ultranacionalista russo, próximo de Vladimir Putin.
Segundo Moscou, o assassinato de Daria Dugina, no sábado (20/08), foi preparado e executado pelos serviços secretos ucranianos. Em comunicado, o FSB (serviço de inteligência da Rússia) afirma que o responsável pela explosão do carro em que estava a jornalista fugiu para a Estônia após o ataque.
Apesar de ter negado qualquer envolvimento no suposto atentado, Kiev teme que a Rússia utilize a morte da jovem como pretexto para retaliações. A Ucrânia celebra o 31° aniversário de sua independência da extinta União Soviética na quarta-feira (24/08). A data vai coincidir com os seis meses da invasão russa, que causou dezenas de milhares de mortes e destruição em massa no país.
No sábado (20/08), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou que Moscou pode estar preparando algo “cruel” contra a Ucrânia nesta semana. Segundo o líder, um dos “objetivos-chave do inimigo” é humilhá-los e “gerar depressão, medo e conflito”. “Devemos ser fortes o suficiente para resistir a qualquer provocação” e “fazer os ocupantes pagarem por seu terror”, acrescentou.
Um assessor da presidência ucraniana, Mikhaílo Podoliak, também alertou que a Rússia pode intensificar seus bombardeios nos dias 23 e 24 de agosto. “A Rússia é um Estado arcaico que vincula suas ações a certas datas, é uma espécie de obsessão. Eles nos odeiam e vão tentar aumentar o número de bombardeios de nossas cidades, incluindo Kiev, com mísseis de cruzeiro”, disse ele, citado pela agência Interfax.
Wikimedia Commons
Daria Dugina, jornalista e cientista política de 29 anos, foi assassinada no sábado, 20
Vingança da morte de Daria Dugina
Entre os nacionalistas russos, crescem os apelos à vingança pela morte de Daria Dugina. A jornalista de 29 anos era filha do filósofo ultranacionalista Alexander Dugin, que provavelmente era o alvo do ataque. O ideólogo radical era próximo do presidente russo, Vladimir Putin, e um grande defensor da ruptura da Rússia com o mundo ocidental.
Segundo o cientista político Cyril Bret, especialista em Rússia no Instituto Jacques Delors, Dugin é defensor de teses raciais e culturais utilizadas por defensores do nazismo. Sua forte popularidade junto aos militantes da dominação de Moscou do espaço euroasiático pode resultar em consequências graves, como a demanda de retaliação pela morte da jornalista.
“Desde o início da invasão, ele fez apelos pela anexação da totalidade do território e do povo ucraniano. É uma linha muito radical segundo a qual não existe civilização ou povo ucranianos, língua ou cultura ucranianas separadas da Rússia. É uma tese negacionista”, afirma Bret, em entrevista à RFI.
O especialista destaca que, no início dos anos 2010, Dugin era próximo do Partido Comunista russo e influenciava o discurso da legenda. Também é admirado pelos separatistas ucranianos das repúblicas autoproclamadas de Lugansk e Donetsk. Além disso, tem ligação com o partido de Putin, Rússia Unida.
No entanto, Bret destaca que o filósofo negacionista é uma figura sem partido. “Dugin não é o conselheiro em política estrangeira de Putin. Ele não tem nenhum cargo oficial, seja nos ministérios das Relações Exteriores, Defesa ou qualquer parte do governo. Ele não é uma figura política, mas uma personalidade midiática e intelectual que tem uma forte influência sobre os elementos de linguagem e a maneira como o debate público se articula na Rússia”, destaca.