A Ucrânia rejeitou nesta quarta-feira (16/03) a ideia ventilada pela Rússia de que Kiev poderia seguir um modelo de “neutralidade” em relação à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) parecido com o de Áustria e Suécia, dizendo que as negociações precisam se concentrar no que chamou de “garantias de segurança” e na definição de um “modelo ucraniano”.
“A Ucrânia está em uma guerra direta com a Rússia. Portanto, o modelo só pode ser 'ucraniano' e apenas com base em garantias sólidas em termos de segurança”, disse Mikhailo Podolyak, negociador indicado pelo governo de Volodymyr Zelensky.
Podolyak também afirmou que Kiev quer que os signatários destas “garantias de segurança” também se comprometam com uma intervenção militar no caso de ataques.
A Áustria é um país neutro que, por suas leis internas, não pode enviar soldados para um palco de guerra, exceto em missões da ONU. Já a Suécia, apesar de sócia da Otan, era neutra até o final da Guerra Fria.
Já o líder russo nas negociações de paz, Vladimir Medinsky, disse que o assunto da neutralidade está sendo discutido entre Moscou e Kiev. “A preservação e desenvolvimento do estatuto neutral da Ucrânia, desmilitarização da Ucrânia, tem sido discutida uma vasta gama de questões, relacionadas ao tamanho do Exército ucraniano. A Ucrânia sugere uma variante austríaca, sueca de um Estado neutral desmilitarizado, mas com um Exército e Marinha próprios. Todos esses assuntos têm sido discutidos a nível dos ministros da Defesa da Rússia e da Ucrânia.”
Telegram / vr_medinskiy
Delegação russa em negociações com ucranianos: Moscou quer neutralidade ‘sueca’ na Ucrânia, mas Kiev rejeita
Além disso, tanto o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, assim como o ministro de Relações Exteriores, Sergei Lavrov, também reafirmaram que o modelo austríaco e sueco de neutralidade poderiam servir para a Ucrânia.
Zelensky: Ucrânia na Otan é ideia descartada
Zelensky admitiu nesta terça-feira (15/03) que a Ucrânia não deve aderir à Otan, aliança militar cuja expansão para o leste é criticada pela Rússia.
“A Ucrânia não é um membro da Otan, nós entendemos isso. Ouvimos por anos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos que não poderíamos entrar. É a verdade e isso precisa ser reconhecido”, afirmou Zelensky em uma videoconferência com líderes da Força Expedicionária Conjunta, grupo de países do norte da Europa encabeçado pelo Reino Unido.
Eleito em 2019, o presidente sempre defendeu a adesão da Ucrânia à Otan e à União Europeia, mas, desde o início da ofensiva russa, teve seu principal pedido recusado pela aliança atlântica: a criação de uma zona de exclusão aérea nos céus ucranianos.
Segundo líderes da Otan, essa medida poderia colocá-la em confronto direto com a Rússia e até desencadear uma terceira guerra mundial. Agora Zelensky pressiona o Ocidente para garantir a doação de caças para proteger o país contra bombardeios russos.