O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou nesta sexta-feira (15/03) que a França já está envolvida no conflito na Ucrânia, acrescentando que as recentes declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, indicam que Paris pretende aumentar o seu envolvimento na guerra.
“Lemos as declarações do Sr. Macron de que a Rússia é um inimigo [da França]. Sim, isto é óbvio para a França, porque está envolvida no conflito na Ucrânia”, disse Peskov.
“Ela [a França], de fato, participa indiretamente nesta guerra. E a julgar pelas declarações do sr. presidente, ela não é contrária a aumentar o grau de seu envolvimento”, acrescentou o porta-voz.
“Eu decido”
Na quinta, em entrevista ao canal de televisão France 2, Macron disse que a França pode responder a uma possível escalada do conflito por parte da Rússia. De acordo com ele, as autoridades francesas, se necessário, tomarão uma decisão que não permitirá a vitória de Moscou.
“Nós negociamos o quanto pudemos, mas não há nada para falar com ele [Vladimir Putin]. A Ucrânia precisa vencer. Eu sou o presidente da França e eu decido”, ressaltou Macron.
Ao mesmo tempo, ele destacou que Paris não está em guerra com Moscou ou com o povo do país, mas declarou que “o regime do Kremlin é um adversário”.
“Se a Rússia vencer esta guerra, a credibilidade da Europa será reduzida a zero”, afirmou o presidente francês. “Hoje, decidir abster-se ou votar contra o apoio à Ucrânia não é escolher a paz, é escolher a derrota.”
Macron também observou que a contraofensiva das Forças Armadas Ucranianas nos últimos meses não correu como esperado. Segundo ele, agora o cenário está difícil para Kiev na linha de frente e admitiu que as Forças Armadas russas levam vantagem em termos de efetivo.
Contexto
O tom elevado do presidente francês em relação à Rússia teve início em 26 de fevereiro, quando Macron admitiu a possibilidade de enviar tropas da OTAN para combater na Ucrânia.
Na ocasião, o presidente francês disse que Paris faria tudo para evitar que Moscou “ganhe esta guerra”. Segundo ele, os líderes dos países ocidentais discutiram a possibilidade de enviar tropas para a Ucrânia, mas ainda não foi alcançado um consenso.
A empreitada de Macron, no entanto, não teve eco entre importantes parceiros europeus que integram a OTAN, a aliança militar ocidental. Em particular, o chanceler alemão Olaf Scholz e o ministro da Defesa do país, Boris Pistorius, enfatizaram que a Alemanha não enviará militares para a Ucrânia. Além disso, o chefe do governo alemão esclareceu que outros membros da Otan também não pretendem fazer isso. Agências de notícias citando integrantes do governo dos Estados Unidos também reportaram que os EUA não pretendem enviar soldados para o conflito.
O diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira da Federação Russa, Sergei Naryshkin, classificou as palavras de Macron sobre a possibilidade de enviar tropas da Otan para a Ucrânia como “sonhos loucos e paranóicos”.
Já o presidente russo, Vladimir Putin, alertou que a introdução de um contingente europeu não mudaria de forma alguma a situação no campo de batalha e apenas levaria a consequências terríveis para as autoridades ucranianas. Ao comentar as declarações do líder francês sobre sobre a possibilidade de enviar tropas para Kiev, Putin disse que a Rússia não teria “linhas vermelhas” contra Estados com tal abordagem.