A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, reagiu nesta terça-feira (27/02) às declarações dadas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, “sobre a possibilidade de enviar tropas da Otan para a Ucrânia”.
“Gostaria de lembrar que, há apenas um mês, o chefe do Ministério das Relações Exteriores da França [Stéphane Séjourné] negou a participação de Paris no recrutamento de combatentes para o regime de Kiev e classificou as provas de 'pura manipulação russa'”, disse a porta-voz, referindo-se ao episódio em que o exército russo atacou um albergue que abrigava combatentes estrangeiros na cidade ucraniana de Kharkiv, e que posteriormente se revelou que a maioria deles era, de fato, francesa.
Sobre isso, Zakharova ironizou que “há um forte sentimento de que o presidente da França, em princípio, não está ciente nem do que seus subordinados dizem nem do que ele mesmo diz”.
A Macron, a diplomata russa também “retomou” a história da França durante a Segunda Guerra Mundial, afirmando que “em abril de 1945, a cidade de Berlim foi defendida pela divisão francesa da SS Carlos Magno e vários outros, que também defenderam o próprio Führerbunker, o bunker de Hitler”. Na sequência, destacou que os voluntários franceses que faziam parte das divisões das Waffen SS, “estavam entre os últimos no Terceiro Reich a receber a ordem nazi da Cruz de Cavaleiro”.
Nesse sentido, a porta-voz russa ressaltou que as tropas da divisão francesa de Carlos Magno se tornaram “os últimos defensores do Reichstag e da Chancelaria do Reich”.
“Emmanuel, decidiu organizar a divisão Carlos Magno II para defender o bunker de Zelensky?”, questionou Zakharova, após contextualizar a história francesa.
Um eventual envio de tropas para a Ucrânia pode ser traduzido como uma declaração de guerra contra a Rússia e, assim, desencadear um conflito de proporções globais. O próprio porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou nesta terça-feira que “isso não é do interesse do Ocidente”.
“O mero fato de discutir a possibilidade de enviar alguns contingentes de países da Otan para a Ucrânia é um novo elemento muito importante. Neste caso, nós temos de falar não sobre a possibilidade, mas sobre a inevitabilidade [de uma guerra Rússia-Otan]”, destacou Peskov.
Já o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, pediu para Macron “usar a cabeça para pensamentos mais racionais e seguros para a Europa”.
Twitter/Il Politico Web
À esquerda, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky; à direita, o presidente da França, Emmanuel Macron
Líderes ocidentais rebatem Macron
Após uma reunião em Paris, incluindo vários líderes da União Europeia e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em apoio a Kiev, lideranças ocidentais vieram a público, nesta mesma terça-feira, rejeitar o envio de tropas terrestres à Ucrânia. Na noite anterior, o presidente da França, Emmanuel Macron, havia levantado a hipótese de levar soldados ocidentais às terras ucranianas para “evitar que a Rússia vença a guerra”.
Macron ainda anunciou a criação de uma coalizão para fornecer “mísseis e bombas de médio e longo alcance”, insistindo que “a derrota da Rússia é indispensável para a segurança e estabilidade na Europa”.
No entanto, sem nenhum tipo de consenso , essa ideia foi rechaçada pelos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), incluindo o próprio Estados Unidos.
Segundo a agência Reuters, um funcionário da Casa Branca assegurou que o governo norte-americano não tem intenção de mandar tropas à Ucrânia, e o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também negou planos nesse sentido.
Já o poder Executivo da União Europeia disse que o assunto “não foi discutido”, enquanto o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, declarou que “nenhum soldado” da Otan nem do bloco europeu será enviado para a Ucrânia.
Durante uma visita à Zagreb, na Croácia, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, também se pronunciou e ressaltou a necessidade de “prudência”, uma vez que “quando se fala de mandar militares” não se deve “fazer pensar que estamos em guerra com a Rússia”.
“Nós não estamos em guerra com a Rússia e, no meu juízo pessoal, não sou favorável a enviar tropas italianas para combater na Ucrânia”, confirmou o chanceler italiano.
(*) Com RT e Ansa