Após a tomada russa de Avdiivka, um reduto ucraniano ao norte de Donetsk, o jornal norte-americano The New York Times denunciou nesta terça-feira (20/02) a “retirada caótica” do exército da Ucrânia da cidade, de modo que diversos soldados feridos foram deixados para trás ou foram capturados pela Rússia como prisioneiros de guerra.
“O comando militar ucraniano reconheceu que alguns soldados foram capturados na retirada de Avdiivka, mas tentou minimizar os números e o significado”, escreve o jornal norte-americano.
Segundo um comunicado do general Oleksandr Tarnavsky por meio do Telegram, a retirada das tropas ucranianas de Avdiivka ocorreu conforme o planejado, mas “na fase final da operação alguns militares ucranianos caíram em cativeiro”, não revelando dados oficiais.
Já Dmytro Lykhovii, um dos porta-vozes exército, contestou que centenas de soldados ucranianos tenham sido capturados pela Rússia, afirmando que isso é “desinformação”. No entanto, reconheceu que alguns militares tenham sido capturados e “certo número” estava desaparecido.
Kiev ainda não consegue estimar quantos soldados perdeu com este último avanço da Rússia. Soldados ucranianos em entrevista ao NYT estimam que entre 850 e mil soldados “parecem ter sido capturados ou estão desaparecidos”.
Enquanto oficiais da Ucrânia evitam admitir “o fracasso na execução de uma retirada ordenada e o caos que se desenrolou”, demais soldados e responsáveis ocidentais, em entrevista sob condição de anonimato ao The New York Times, culpam justamente essa falta de planejamento do exército como “diretamente responsável pelo que parece ser um número significativo de soldados capturados”.
“Soldados afirmaram que a retirada ucraniana foi mal planeada e começou muito tarde. Com base em suas entrevistas, as forças ucranianas não estavam preparadas para a rapidez com que o avanço russo em Avdiivka ganhou velocidade”, informa a publicação.
Os soldados ucranianos entrevistados pelo jornal ainda sugeriram que “algumas unidades recuaram antes que outras tomassem conhecimento da retirada”, de forma que “colocou as unidades deixadas para trás em risco de serem cercadas pelos russos”.
Consultando estrategistas norte-americanos, o jornal afirma que “uma retirada caótica não é inevitável. Retirar as tropas sem sofrer grandes perdas é difícil, mas possível, se for feito numa operação deliberada e sem pressa, segundo”.
Volodymyr Zelenskyy/Twitter
Kiev ainda não consegue estimar quantos soldados perdeu no último avanço da Rússia
Nessa situação, o jornal analisa que “a queda de Avdiivka para a Rússia pode ser mais significativa do que parecia inicialmente” uma vez que o exército ucraniano é sustentado por “moral e o recrutamento”.
“De acordo com altos funcionários ocidentais e soldados que lutam pela Ucrânia, [essa é] uma perda devastadora que pode desferir um golpe na já enfraquecido moral ´[ucraniana]”, afirma a publicação lembrando a fracassada contraofensiva planejada por Kiev contra Moscou.
A perda também reflete na dificuldade que o Estado Ucraniano enfrenta em recrutar mais soldados, uma vez que até mesmo os “experientes em campo de batalha estão sendo capturados. Isso tornaria mais aguda a necessidade de mais tropas e complicaria o esforço para recrutar mais”, afirma o NYT.
Prisioneiros de guerra
A Rússia reconheceu a captura de “um grande número de soldados ucranianos em Avdiivka” por meio de uma declaração do chefe da República Popular de Donetsk (DPR), Denis Pushilin.
“Há um número bastante grande de prisioneiros de guerra. Em linhas gerais, posso dizer que o inimigo foi forçado a se render para permanecer vivo. A informação de que disponho indica que este é um número [de prisioneiros de guerra]” bastante grande”, disse Pushilin segundo a agência Tass.
Ainda sem dados oficiais sobre os soldados ucranianos detidos, o chefe de Donetsk informou que caso julgue necessário, o Ministério da Defesa da Rússia pode divulgar mais dados.
Por sua vez, a pasta declarou, nesta terça-feira (20/02), que eliminou “425 soldados de Kiev, um tanque, quatro veículos blindados de combate e cinco veículos motorizados” no último dia.
Apesar de não mencionar dados sobre o número de prisioneiros de guerra, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, declarou que ao fugir, a Ucrânia deixou “muitos prisioneiros, feridos, canhões de lançamento e sistemas de mísseis para trás”.
Ainda de acordo com o ministro, a Ucrânia sofreu 2.400 baixas militares na luta por Avdiivka entre 17 e 18 de fevereiro.
O New York Times menciona ainda que em novembro, o governo da Ucrânia afirmou que a Rússia tinha 3.574 de seus militares em cativeiro.
Já em janeiro, derrubou um avião de carga russo, que, na verdade, transportava 65 desses soldados. O ataque vitimou toda a equipe do avião, bem como os militares ucranianos.
(*) Com Sputniknews