As autoridades ucranianas disseram aos representantes especiais da China e do Brasil que Kiev não pode ser persuadida a negociar com a Rússia até que as tropas russas deixem o país. A informação foi divulgada pelo chefe do gabinete do presidencial da Ucrânia, Andriy Yermak.
“Foi exatamente isso que expliquei aos enviados da China e do Brasil, que não existe tal força que hoje obrigue a sociedade e a liderança ucraniana a conversar com os russos – desde que tenhamos tropas russas [em território ucraniano]. Não existe”, disse ele em entrevista exclusiva à Interfax-Ucrânia, nesta quinta-feira (25/05).
Ele destacou que houve “uma conversa bastante franca” com representantes dos líderes do Brasil e da China e que a Ucrânia está “muito grata pelo desejo de participar, pela reação”, mas reforçou que Kiev tem seu próprio plano de paz.
“Eu honestamente disse a ambos que a Ucrânia está muito grata pelo desejo de participar, pela reação. Mas a Ucrânia tem seu próprio plano de paz, e o que consideramos justo – já que a guerra está acontecendo em nosso território –, que o plano ucraniano deve ser a base para o acordo. O presidente Volodymyr Zelensky indicou claramente que a Ucrânia está pronta para ouvi-los e escutá-los, então, para isso, os convidamos a participar da Cúpula da Paz”, disse Yermak.
O chefe de gabinete do presidente ucraniano também disse que se opõe às tentativas de países terceiros de atuar como mediadores nas relações entre a Ucrânia e a Rússia. “Nossa segunda posição, que transmitimos aos representantes da China e do Brasil: somos contra a mediação”, ressaltou.
“Nós não começamos esta guerra. Não precisamos de terras russas. Estamos lutando pelos nossos. Mas não teremos compromissos territoriais. Foi muito importante dizer isso aos representantes especiais. Em todo o resto, vamos conversar”, completou Yermak.
Presidência da Ucrânia
Assessor especial do presidente Lula, Celso Amorim foi o primeiro brasileiro a iniciar diálogo com ucranianos, em visita a Kiev
Desencontro entre Lula e Zelensky
Durante a realização da cúpula do G7, no Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que não conseguiu se reunir com o colega Volodymyr Zelensky, porque o presidente ucraniano não teria comparecido no horário em que a delegação brasileira estipulou a agenda bilateral.
“Nós tínhamos uma entrevista bilateral com a Ucrânia às 3 horas da tarde. Nós tínhamos a informação de que eles tinham atrasado, enquanto isso, atendi o presidente do Vietnã. Quando o presidente do Vietnã foi embora, a Ucrânia não apareceu. Certamente, teve outro compromisso e não pôde vir aqui. Foi simplesmente isso que aconteceu”, informou Lula.
O presidente brasileiro disse ter ficado “triste e decepcionado” com o não comparecimento de Zelensky. “Eu gostaria de encontrar com ele e discutir o assunto. O Zelensky é maior de idade, ele sabe o que ele faz”, concluiu.
Ao comentar sobre o desencontro entre Lula e Zelensky, o chefe de gabinete do presidente ucraniano afirmou que a reunião não se deu por conta do “cronograma apertado”.
“O cronograma era muito apertado e, portanto, simplesmente não coincidia no tempo. Portanto, em princípio, os presidentes, em geral, só puderam se ver fisicamente na segunda sessão”, argumentou.
“Estamos muito interessados que o Brasil também participe da Cúpula da Paz, na implementação do plano de paz. Iremos continuar estes contatos. Desenvolvemos, creio eu, um contato muito bom com o enviado dele, que veio para a Ucrânia [Celso Amorim]. Nós concordamos em continuar. Estamos esperando por Lula na Ucrânia, enviamos um convite. E tenho certeza que, dada a situação apropriada, Volodymyr Zelensky visitaria o Brasil”, destacou Ermak.