O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que está pronto para dialogar sobre “compromissos” em relação às regiões separatistas ucranianas de Donetsk e Lugansk, localizadas em Donbass, bem como da Crimeia. A declaração foi feita nesta segunda-feira (07/03) em entrevista à emissora norte-americano ABC News.
“Podemos chegar a um compromisso sobre como esses territórios ocupados e essas repúblicas podem existir”, disse o presidente, acrescentando que “o que é importante para mim é como as pessoas que querem fazer parte da Ucrânia vão viver”.
Ao longo da entrevista, ele afirmou ainda que está “pronto para um diálogo” mas “não para a capitulação” porque, segundo ele, “isso não é sobre mim, e sim sobre as pessoas que me elegeram”.
As afirmações foram feitas ao ser questionado se estava disposto a ceder às demandas de Moscou e reconhecer a Crimeia como parte da Rússia e as regiões separatistas do Donbass como estados independentes, além de abrir mão do desejo de tornar a Ucrânia um estado-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
As regiões de Donetsk e Lugansk se declararam independentes da Ucrânia logo após a queda, em 2014, do então presidente Viktor Yanukovich. Nenhum país, a não ser a Rússia (em fevereiro de 2021), reconheceu as regiões. Neste mesmo contexto, a Crimeia votou em referendo para deixar a Ucrânia e se juntar à Rússia no mesmo ano.
Sobre a aliança militar, Zelensky disse que “esfriou” a questão há muito tempo depois de entender que a Otan não estaria “pronta” para aceitar a Ucrânia como membro, por um suposto medo de controvérsias e confrontação com a Rússia. “Eu nunca quis ser um país que implora as coisas de joelhos. Não vamos ser este tipo de país e eu não quero ser este tipo de presidente”, afirmou Zelensky.
Ao reiterar que estava pronto para negociações com seu homólogo russo, o mandatário ucraniano afirmou ainda que “o que precisa ser feito é que [Vladimir] Putin comece a falar, inicie um diálogo”.
Ocidente não cumpre promessas
Já nesta terça-feira (08/03), Zelensky divulgou um novo vídeo em que acusa países ocidentais de não cumprirem suas promessas.
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Zelensky tem publicado vídeos no Facebook comentando o conflito; nesta terça, acusou ocidente de não cumprir promessas
A declaração acontece em meio à continuação da ofensiva russa e à recusa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em estabelecer uma zona de exclusão aérea para impedir bombardeios na Ucrânia.
“Já faz 13 dias que temos ouvido promessas, 13 dias em que nos dizem que vamos ser ajudados no ar, que vai haver aviões, que eles serão entregues para nós”, diz Zelensky no vídeo.
A Otan já afirmou que não pretende estabelecer uma zona de exclusão porque, segundo a aliança militar, operar no espaço aéreo ucraniano arrastaria os países-membros para uma guerra direta contra a Rússia.
Zelensky, por sua vez, afirmou na entrevista à ABC que, independentemente do envolvimento do Ocidente, “essa guerra não vai terminar assim”.
Apelo de Yanukovich
O ex-presidente da Ucrânia Viktor Yanukovich, derrubado em fevereiro de 2014, enviou uma carta a Zelensky pedindo o “fim do derramamento de sangue”.
“Quero fazer um pedido, de modo presidencial e até um pouco paternal: Volodymyr, talvez você sonhe em se tornar um verdadeiro herói, mas o heroísmo não é ostentação, não é combater até o último ucraniano”, disse Yanukovich.
Moscou iniciou uma ofensiva militar contra a Ucrânia em 24 de fevereiro, depois de uma tensão entre os países que já se arrastava desde 2014, afirmando estar se protegendo de provocações de Kiev e do expansionismo da Otan, que seria uma “ameaça” ao território russo.
Desde então, e até o momento, russos e ucranianos realizaram três rodadas de negociações de paz na Bielorrússia.
(*) Com Ansa e RT