Atualizada 24/07/2017 às 12:09
Janusz Korczak, cujo verdadeiro nome era Henryk Goldszmit, médico pediatra e escritor judeu polonês, morre no campo de extermínio nazista de Treblinka em 5 de agosto de 1942. Deixou seu nome à posteridade por ter escolhido deliberadamente ser deportado com as crianças judias do Gueto de Varsóvia onde dirigia um orfanato.
A história da vida de Korczak foi descrita em diversos livros. O filme “Korczak” de Andrzej Wajda conta sua história e sua deportação com os órfãos pelos nazistas.
Korczak nasceu em 22 de julho de 1878 em Varsóvia numa família judaica. Sua mãe era membro da comunidade judaica de Kalisz, seu pai partidário do movimento progressista judaico Haskalá.
Após a morte do pai, quando tinha 17 anos, as condições de vida da família se degradaram significativamente. Passou a dar aulas particulares para sustentar a mãe e a irmã.
Em 1898, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Varsóvia e adotou o pseudônimo de Janusz Korczak por ocasião de um concurso literário. Em 1899 foi para a Suíça para se familiarizar com a pedagogia de Johann Pestalozzi. Em 17 de março de 1905 obteve seu diploma de médico.
Durante a Guerra Russo-japonesa – a Polônia estava ocupada pela Rússia – foi médico militar. Entre 1903 e 1912 trabalhou como pediatra no hospital infantil Berson e Bauman ao lado de Samuel Goldflam, com quem sustentou numerosas causas sociais.
Em 1907 viajou para Berlim para aperfeiçoar seus conhecimentos de medicina. Assistiu a conferências pagas de líderes sociais-democratas e trabalhou numa clínica infantil.
Em 1911 tornou-se diretor do orfanato Dom Sierot por ele criado para as crianças judias de Varsóvia. Criou uma espécie de “República das Crianças” com seu parlamento, tribunal e jornal.
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Monumento a Korczak em Jerusalém
Entre 1914 e 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, esteve como tenente à frente de um hospital militar no front ucraniano. Em 1918, de volta a Varsóvia, trabalhou no hospital epidemiológico de Lodz. Em 1920, já como major, participou como médico militar na guerra russo-polonesa.
Em 1900, sob o pseudônimo de Hen-Ryk, trabalhou no semanário satírico Kolce como coautor de uma história imaginária Lokaj. A partir de 1901, escreveu curtos folhetins “As crianças da rua”, mais tarde reunidos em livro. Entre 1903 e 1905, publicou folhetins no semanário Glos. Em 1919, organizou na Polônia o partido sionista de esquerda Hachomer Hatzair, fundado em Viena em 1916.
Em 1926, funda o Maly Przeglad (1926-1939), suplemento do jornal Nasz Przeglad, redigido por crianças e adolescentes, por ele dirigido durante quatro anos. Nesse tempo todo, militou ativamente pela popularização da defesa dos direitos da criança.
No Gueto de Varsóvia recusou-se a portar a estrela de David, pois considerou que isto dessacralizava o símbolo. Nos três últimos meses de sua vida, a partir de maio de 1942, trabalhou num livro de memórias do Gueto. Nos dois derradeiros anos de vida, ocupou-se quase exclusivamente das crianças de seu orfanato.
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A partida
Foi exterminado junto com suas crianças do gueto em 5 de agosto de 1942, ao insistir em acompanha-las em seu caminho às câmaras de gás de Treblinka. Sua partida do gueto foi muitas vezes descrita por testemunhas como Joshua Perle ou Wladyslaw Szpilman no filme “O Pianista” de Roman Polansky.
No começo da manhã de 5 de agosto de 1942, soldados nazistas da SS, ucranianos e letões cercam o pequeno gueto. Korczak, calçando botas militares, conduz um cortejo de 192 crianças, sendo duas delas levadas pelas mãos. Tinha a seu lado também 10 de seus auxiliares. As crianças marchavam de quatro em quatro com suas melhores roupas, carregando a bandeira do rei Matias I. Nesse mesmo dia, o exército nazista deportou do Gueto de Varsóvia 4 mil crianças dos orfanatos e seus cuidadores. A peça de teatro de Liliane Atlan, “O Mal da Terra” foi inspirada pelo derradeiro trajeto de Korczak com suas crianças.
Desde o começo do século 20, Korczak trabalhou numa refundação completa da educação e do estatuto da criança sobre bases constitucionais inteiramente novas, privilegiando a salvaguarda e o respeito absoluto à infância.
Como autor, assim como cientista e clínico, encarnou uma verdadeira pedagogia do respeito, uma escola de democracia e de participação que fazem dele hoje em dia universalmente uma referência.