Em 17 de janeiro de 1966, um avião-bombardeiro norte-americano B–52 choca-se com uma aeronave alimentadora de combustível sobre a costa mediterrânea da Espanha e deixa cair quatro bombas de hidrogênio com 70 quilotons nos arredores da cidade de Palomares.
O bombardeiro estava retornando a sua base no estado norte-americano da Carolina do Norte após cumprir uma missão de rotina na rota sul do Comando Aéreo Estratégico.
Quando tentava se reabastecer, o B-52 colidiu-se com o depósito de gasolina do tanqueiro, rompendo a fuselagem e incendiando o combustível. O avião-tanque explodiu, deixando seus quatro tripulantes mortos.
No B-52, quatro dos sete passageiros conseguiram se salvar com a ajuda de paraquedas. Nenhuma das bombas estava armada. Ainda assim, o material radioativo de duas delas caiu em terra e explodiu com o impacto, formando crateras e espalhando plutônio por Palomares. Uma terceira bomba caiu no leito de um rio seco e foi recuperada relativamente intacta. A quarta caiu no mar, em local incerto.
Palomares, uma remota comunidade pesqueira e agrícola, foi rapidamente tomada por cerca de dois mil soldados norte-americanos e guardas civis espanhóis, que tentavam limpar o lixo radioativo e descontaminar a área.
Os norte-americanos tomaram precauções para prevenir uma superexposição à radiação, mas não os trabalhadores espanhóis, que viviam num país aonde não existia esse tipo de treinamento. Por fim, cerca de 1400 toneladas de vegetação e solo radioativo foram enviadas para os EUA para desativação.
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Aeronave norte-americana tentava se reabastecer quando colidiu com tanqueiro
33 navios da Marinha dos EUA envolveram-se na busca da bomba de hidrogênio perdida. Com um computador IBM, especialistas tentaram calcular onde a bomba poderia ter caído, mas a possível área de impacto era muito ampla para uma busca efetiva. Foi o relato de um pescador local que levou os investigadores a uma área menor. Em 15 de março, um submarino localizou a bomba e em 7 de abril foi recuperada intacta, com apenas alguns danos.
Estudos sobre os efeitos do acidente nuclear na população de Palomares foram sigilosos, mas os EUA receberam cerca de 500 reclamações de moradores cuja saúde havia sido afetada. Como tudo ocorreu na Espanha, o fato ganhou maior apelo publicitário do que outras dezenas de colisões similares ocorridas dentro das próprias fronteiras norte-americanas.
Como medida de segurança, autoridades não anunciavam acidentes com armas nucleares e muitos de seus cidadãos foram expostos sem sequer saber a radiação. Hoje em dia, duas bombas de hidrogênio e um núcleo de urânio jazem em locais não determinados nos estados da Geórgia, Washington e Carolina do Norte.
Durante a Guerra Fria, manter bombardeiros carregados com armas nucleares percorrendo o planeta era uma estratégia dos EUA para manter a capacidade de ser o primeiro a atacar o inimigo. Numa operação militar dessa magnitude, era inevitável que acidentes não ocorressem. O Pentágono admite que mais de trinta acidentes em que os bombardeiros ou se espatifaram ou pegaram fogo resultaram em contaminação nuclear, dano, destruição ou perda de bombas nucleares.
Também nesse dia:
1961 – Eisenhower alerta para risco do ‘complexo militar industrial’
1961 – Patrice Lumumba é assassinado no Congo
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.