O quadrinista René Goscinny morreu de crise cardíaca em 5 de novembro de 1977, deixando Asterix órfão. A aventura gaulesa que criou juntamente com Albert Uderzo é o seu maior sucesso com traduções e adaptações em numerosos idiomas. Mas este cenarista participou igualmente de Lucky Luke, Iznogoud e escreveu O Pequeno Nicolas. O desenhista Uderzo levaria adiante as aventuras da dupla Asterix e Obelix contra suas vítimas preferidas, os romanos.
Quem criou Asterix e Obelix
Goscinny nasceu em 1926 em Paris. Foi na capital francesa que seu pai, de origem polonesa, encontrou e se casou com sua mãe originária da Ucrânia. Tinha dois anos quando partiu para Buenos Aires, onde seu pai empregou-se como químico. Vive uma infância feliz e cursa todo o período escolar numa escola francesa da capital argentina. Diploma-se no ensino médio em 1943, alguns meses antes do falecimento do pai.
Órfão, Goscinny vê-se obrigado a buscar trabalho e torna-se auxiliar de contador numa empresa de pneumáticos. Parte com sua mãe para Nova York em 1945. Em sua cabeça, fervilhava a intenção de entrar nos estúdios de Walt Disney, em vão. Após dissipar esta ilusão, regressa à França no ano seguinte para prestar o serviço militar.
Em 1948, de volta a Nova York, Goscinny emprega-se numa pequena agência de publicidade. Encontra-se com os futuros fundadores da revista humorística Mad – Harvey Kurtzman, Jack Davis e Will Elder – além de Maurice de Bévère, conhecido do público pelo nome de Morris. Colaboraria com ele de 1957 até sua morte, escrevendo as aventuras do cowboy mais rápido do oeste, “Lucky Luke”.
Goscinny conhece Georges Troisfontaines, diretor da agência World Press, sociedade que fornecia as tiras à revista Spirou, que lhe confia o posto de diretor da filial parisiense da empresa. É quando ele conhece Albert Uderzo, com quem produz as séries “Jehan Pistolet”, “Oumpah-Pah” e a que se tornaria, em breve tempo, um enorme sucesso, “Asterix”.
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Extensa obra do quadrinista vai muito além da dupla que comandou a resistência gaulesa
As aventuras do pequeno guerreiro gaulês e de sua tribo fariam a volta ao mundo e seriam traduzidas em mais de 20 idiomas. A dupla evoluiu suas histórias para uma forma mais adulta quando decidiu fazer de Asterix uma paródia da sociedade francesa.
Seus projetos na imprensa resultam igualmente em bastante sucesso. Colabora com a revista Tintin. Cria com Charlier e Uderzo a revista Pilote em 1959. As primeiras peripécias de Asterix são publicadas neste periódico, do qual se tornaria redator-chefe de 1963 a 1974. Goscinny descobriria numerosos desenhistas talentosos como Gotlib, Reiser, Cabu e Bretecher e os convidaria para a redação de Pilote.
Sob o pseudônimo de Agostini, Goscinny assinaria as histórias do pequeno Nicolas de Jean-Jacques Sempé. De sua imaginação assaz fértil nasceriam igualmente os personagens Iznogoud, com Jean Tabary, e os Dingodossiers, com Gotlib. A lista de todas as suas realizações a quatro mãos não ficaria por aqui: “Spaghetti” com Dino Attanasio, “Strapontin” com Berck, “Prudence Petitpas” com Maurice Maréchal, “Modeste et Pompon” com André Franquin, “Lili Mannequin” com Will.
Quanto ao cinema, Goscinny é o autor do roteiro do filme “Viager” de Pierre Tchernia (1971). Depois de ter fundado em 1974 os “Estúdios Ideiafix” com Uderzo e Georges Dargaud, produz os “Doze Trabalhos de Asterix”, filme que estrearia em 1976. Nesse mesmo ano, o 23º álbum de Asterix tem uma tiragem de 1,3 milhão de exemplares. O genial roteirista faleceu em novembro de 1977 aos 51 anos, ao sofrer uma repentina parada cardíaca.
Goscinny marcou a história do desenho animado europeu. Todos os álbuns e livros em conjunto venderam mais de 500 milhões de exemplares em todo o mundo. Seus personagens, doravante passados à posteridade, continuarão sem dúvida ainda por muito tempo a fazer rir crianças, jovens e adultos.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.