A histórica “Marcha sobre Washington”, que ocorreu em 28 de agosto de 1963 e foi liderada pelo ativista social Martin Luther King, deu força ao movimento dos direitos civis e para um projeto concreto de igualdade social nos EUA. No final da passeata, que reuniu mais de 250 mil manifestantes, King Jr. bradou um dos mais marcantes discursos do século XX, e de todos os tempos.
“Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: consideramos essas verdades como auto-evidentes que todos os homens são criados iguais”, disse Luther King em discurso emocionado.
A marcha em Washington foi a tentativa mais contundente em séculos contra as marcas da segregação racial e da exclusão social das minorias norte-americanas.
‘Eu tenho um sonho’ privatizado
Depois do evento, e o que poucos sabem, no entanto, é que as famosas palavras do líder negro não estarão sob domínio público até 2038, quando se completa 70 anos da morte de King Jr. Até lá, quem quiser usar ou reproduzir o discurso terá que pagar uma taxa à iniciativa privada.
A empresa Intellectual Properties Management e a EMI Publishing, as “donas” do discurso, não divulgam qual é o valor para a reprodução. No entanto, USA Today, CBS e outros veículos importantes dos EUA já enfrentaram processos judiciais por terem colocado em cadeia nacional fragmentos do que foi dito por King Jr. em Washington.
A revelação mais surpreendente, porém, é que a Intellectual Properties tem ligações próximas com os filhos de Luther King e que seriam estes os responsáveis “por tentar ganhar dinheiro com o discurso do pai”, denunciam especialistas em direitos autorais.
“Meu pai deu tudo o que ele tinha “, afirma Martin Luther King III .” Ele não se preocupava com dinheiro. As pessoas esperam que sejamos como ele”, respondeu o herdeiro, que nega veemente que membros da família estão ganhando dinheiro com o “eu tenho um sonho”.
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Martin Luther King foi um ativista norte-americano pelos direitos civis e contra a segregação racial
Discurso de Martin Luther King
A Marcha por Trabalho e Liberdade, em 28 de agosto de 1963, reuniu em Washington mais de 250 mil manifestantes em frente ao monumento a Lincoln, o presidente que emancipou os escravos e cujo decreto, nas próprias palavras de Luther King, pôs fim aos tempos de cativeiro dos negros nos Estados Unidos.
Mas, cem anos depois da “Proclamação de Emancipação”, as leis “Jim Crow” adotadas entre 1876 e 1965 no sul do país, deram licença para a segregação, o racismo e os linchamentos dos negros americanos, criando um sistema de apartheid que buscava asfixiá-los.
Na época, poucos acharam que o discurso contribuiu para que o presidente Lyndon B. Johnson sancionasse a Lei de Direitos Civis de 1964 que proibiu a segregação e discriminação racial. As palavras de Luther King nem foram capa do jornal Washington Post, mas foram eternizadas pela história.
Com muitas conquistas a favor, ainda no século 21 os negros encontram barreiras para a ascensão social, com altas taxas de desemprego, pobreza, encarceramento e toxicomania, e desigualdade no acesso à educação e aos serviços de saúde e habitação.
O primeiro presidente negro dos EUA discursou em 28 de agosto de 2013 em memória a King Jr. No dia anterior, em uma entrevista ao popular programa de rádio Tom Joyner Morning Show, Obama reconheceu a dificuldade de repetir o impacto social que as palavras de King causaram diante de 250 mil pessoas naquele dia 28 de agosto de 1963.
“Quando abordamos o discurso do doutor King na Marcha sobre Washington, estamos falando de um dos cinco maiores discursos da história dos EUA… Acho que a forma como ele captou a esperança e o sonho de toda uma geração é inigualável”, declarou Obama, que pode estar às vésperas de uma nova intervenção no Oriente Médio.
(*) Com informações do Mother Jones e colaboração de Maria Peña, Agência Efe
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.