O Parque Yasuni, no Equador, está no centro de um referendo emblemático sobre o futuro da exploração de petróleo nesta terra indígena amazônica, uma reserva única de biodiversidade. Neste domingo (20/08), chamados às urnas para as eleições gerais, incluindo uma eleição presidencial antecipada, os eleitores devem votar também sobre a suspensão do “Bloco 43”, considerado a joia da coroa da estatal Petroecuador.
Enquanto alguns consideram a selva amazônica seu lar e uma ferramenta valiosa na luta contra a mudança climática, outros a apontam como uma peça estratégica para apoiar a economia equatoriana. Solicitada por um grupo ambiental há dez anos, essa consulta nacional foi finalmente autorizada em maio passado pelo mais alto tribunal do país. Em jogo está o futuro desse campo de petróleo chamado “Bloco 43”, de onde são extraídos 12% dos 466 mil barris/dia produzidos no Equador.
O governo, que tentou em vão se opor a essa consulta, estima os prejuízos em 16,47 bilhões de dólares em 20 anos se a permissão para a exploração de petróleo na região for revogada. Em um exemplo incomum de democracia climática, são os equatorianos que decidirão o que é mais importante para seu território, extrair petróleo ou proteger a Amazônia.
Exploração do “Bloco 43” x lares indígenas ameaçados
A perfuração atualmente ocorre no Parque Nacional Yasuni, uma das biosferas mais diversas do mundo e lar de três das últimas populações indígenas isoladas do mundo.
Tudo começou em 2016, após anos de debate intenso e esforços fracassados do então presidente Rafael Correa para persuadir a comunidade internacional a pagar US$ 3,6 bilhões ao Equador para não perfurar e, consequentemente, não poluir e devastar a região.
Flickr/GRID-Arendal
No campo de petróleo chamado "Bloco 43" são extraídos 12% dos 466 mil barris/dia produzidos no Equador
A reserva nacional abriga as tribos Waorani e Kichwa, assim como os Tagaeri, Taromenane e Dugakaeri, que optam por viver isolados do mundo moderno.
Cahuiya disse que a reserva era “um pulmão para o mundo”, capturando dióxido de carbono e bombeando oxigênio e vapor d’água. “O vapor d’água ajuda a manter a temperatura baixa no planeta, é como um ar condicionado” para a atmosfera, disse Gonzalo Rivas, diretor da estação científica Tiputini da Universidade privada de São Francisco, em Quito.
“Democracia climática”
A bacia amazônica – que se estende por oito nações – é um sumidouro de carbono vital. Mas os cientistas alertam que sua destruição está levando a maior floresta tropical do mundo a um ponto crítico, além do qual as árvores morreriam e liberariam carbono em vez de absorvê-lo, com consequências catastróficas para o clima. “Esta floresta nos permitiu sobreviver até hoje”, disse Rivas.
O Parque Nacional Yasuni abriga cerca de 2 mil espécies de árvores, 610 aves, 204 mamíferos, 150 anfíbios e mais de 120 espécies de répteis, de acordo com a universidade.
O destino da reserva tem chamado a atenção de celebridades internacionais, como o astro de Hollywood e ativista ambiental Leonardo DiCaprio e a ativista climática sueca Greta Thunberg que comemoraram o “referendo histórico”.
A ONG Amazon Frontlines disse que a decisão pela votação foi “uma demonstração inédita de democracia climática, onde as pessoas, não as corporações, decidem sobre a extração de recursos e seus limites.”
Pesquisas de opinião publicadas no início deste mês mostraram uma leve inclinação para um voto “Sim” para interromper a extração de petróleo.
A petrolífera nacional Petroecuador argumenta que o bloco ocupa apenas 80 hectares dos mais de um milhão de hectares que compõem a reserva.
Os moradores de Yasuni estão divididos, com alguns apoiando as companhias de petróleo e os benefícios que o crescimento econômico trouxe para suas aldeias.