O grupo Loss and Damage Collaboration, que reúne profissionais, pesquisadores, ativistas e políticos do mundo todo, divulgou nesta segunda-feira (24/10) um relatório sobre a ausência de compensação da parte de países ricos para cerca de 189 milhões de pessoas vítimas dos impactos ambientais em países pobres por ano.
“Apesar de 31 anos de pressão, 26 COPs e inúmeros painéis e diálogos, nenhuma ajuda financeira foi concretizada para ajudar vítimas de impactos climáticos”, explica o grupo.
O relatório “O custo do atraso” destaca que países desenvolvidos não se empenham em criar mecanismos para ressarcir vítimas de danos e prejuízos provocados pela crise climática.
O documento, divulgado pela ONG Oxfam, mostra que na primeira metade de 2022, seis companhias de extração de combustível fóssil ganharam juntas o bastante para cobrir danos de grandes desastres climáticos do período, além de quase US$ 70 bilhões de lucros.
O coletivo também apurou que 55 dos países mais vulneráveis aos desastres climáticos sofreram perdas econômicas geradas por fatores climáticos totalizando mais de US$ 1 trilhão nos vinte primeiros anos deste século. Paralelamente, os lucros com a exploração de combustíveis fosseis explodiram.
Os números vão além e revelam que a indústria de energia fóssil ganhou entre 2000 e 2019 sessenta vezes mais do que o montante dos danos econômicos nesses 55 países mais frágeis.
Wikicommons
55 dos países mais vulneráveis aos desastres climáticos sofreram perdas econômicas geradas por fatores climáticos
O grupo reivindica que um mecanismo de perdas e danos seja implementado durante a COP27 no final do ano, no Egito.
O relatório estima ainda que, desde 1991, os episódios meteorológicos extremos provocaram 79% das mortes registradas nos países em desenvolvimento. A incidência dessas catástrofes ambientais mais que dobraram desde então e 676 mil pessoas morreram como consequência.
Pobres pagam conta ambiental
Para se ter uma ideia da disparidade entre lucros e vítimas, o coletivo destaca o que se passa na África. O continente todo produz menos que 4% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas o Banco de Desenvolvimento Africano alerta que o continente vem perdendo entre 5% e 15% do PIB per capita por causa das mudanças climáticas.
“Ainda não é tarde demais”, diz Lyndsay Walsh, consultora de políticas climáticas da Oxfam e coautora do relatório. “É injusto que poluidores que são desproporcionalmente responsáveis pela escalada das emissões prossigam amealhando grandes lucros enquanto países vulneráveis continuem a pagar a conta dos impactos climáticos que destroem vidas, casas e trabalho”, acrescenta.
“Precisamos acabar com este atraso; o ideal seria ter começado há 31 anos, mas a melhor opção é fazer isso agora”, diz Walsh.