O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas (ONU) responsável por monitorar a crise ambiental no planeta, divulgou nesta segunda-feira (09/08) um alarmante relatório que aponta o impacto das atividades humanas no aumento da frequência de fenômenos meteorológicos extremos.
De acordo com o estudo, em 2019, último ano antes da pandemia de Covid-19, a concentração de dióxido de carbono (CO2), gás resultante sobretudo da queima de combustíveis fósseis e causador do efeito estufa, atingiu o maior valor em 2 milhões de anos.
Já os índices de metano (CH4) e dióxido de nitrogênio (NO2), também relacionados ao aquecimento do planeta, chegaram aos patamares mais elevados em 800 mil anos. Além disso, a temperatura da Terra cresceu nos últimos 50 anos em velocidade sem igual em um período de dois milênios.
Enquanto isso, o contínuo aumento do nível do mar é um fenômeno “irreversível em centenas ou até milhares de anos”. Segundo o IPCC, o crescimento da frequência de desastres naturais “não tem precedentes” e é “inequivocamente” causado pela atividade humana, situação que pode se tornar ainda pior se o mundo não reduzir suas emissões de poluentes.
Todos os cenários considerados pelo painel preveem que a temperatura média global continuará subindo ao menos até a metade do século, mas, se não houver ações para mitigar as emissões, o mundo chegará a um aquecimento de 2ºC acima dos níveis pré-industriais até 2100.
O IPCC ainda aponta que as atividades humanas são responsáveis por um aumento de 1,1ºC na temperatura global em relação ao período 1850-1900.
Bruno Kelly/Amazônia Real
Imagem aérea de queimada próxima à Flora do Jacundá, em Rondônia
“O relatório é um alerta vermelho para a humanidade. Os sinais de alarme são ensurdecedores, e as provas são irrefutáveis. As emissões de gases do efeito estufa devido à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento estão sufocando nosso planeta e colocando em risco imediato bilhões de pessoas”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Segundo o português, o limite de 1,5ºC no aumento da temperatura média do planeta, principal meta do Acordo de Paris, está “perigosamente próximo”. “A única maneira de não superar esse patamar é intensificar com urgência os nossos esforços”, acrescentou.
Já a ativista ambiental Greta Thunberg disse que o relatório do IPCC não tem “surpresas reais”. “Ele confirma o que já sabíamos de milhares de estudos e relatórios prévios: que estamos em uma emergência”, escreveu a sueca no Twitter.
De acordo com Thunberg, ainda é possível evitar as piores consequências das mudanças climáticas, “mas não se continuarmos como hoje”.
Lockdown
Em seu relatório, o IPCC diz que as medidas de isolamento em função da pandemia provocaram uma redução de 7% nas emissões globais de CO2, algo inédito em décadas, mas não produziram nenhum efeito na concentração do gás na atmosfera.
“Para combater o aquecimento global, é necessário reduzir a concentração de CO2, que permanece na atmosfera por centenas de anos, e dos outros gases do efeito estufa”, diz o documento, que é o mais detalhado estudo já publicado sobre as mudanças climáticas.
O relatório se baseia na análise de mais de 14 mil artigos científicos por mais de 200 cientistas de todo o mundo.