Após passar os últimos anos como pária internacional, ao reduzir os esforços em políticas ambientais, o Brasil tem a oportunidade de retomar seu protagonismo global no tema durante a 27ª Conferência da ONU pelo Clima (COP27) com o novo governo. Esta é a análise do pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Jean-Pierre Ometto, um dos cientistas participantes dos últimos relatórios do IPCC.
“O Brasil abre agora uma oportunidade para voltar a ter protagonismo, em particular, imaginando uma reestruturação da agenda ambiental do país”, considera Ometto. Para o pesquisador, o país pode liderar o debate que considere não apenas as políticas de mitigação e adaptação à mudança climática, mas também a questão da redução da desigualdade.
Na reunião que começa neste domingo (06/11), em Sharm el-Sheikh, no Egito, os países participantes devem centrar seus esforços na decisão sobre a implementação de promessas feitas em conferências anteriores para frear as mudanças climáticas. Entre estas, Ometto destaca a urgência no desenho e execução de mecanismos de financiamento para a conservação da biodiversidade e para a adaptação à nova realidade.
“Tem uma série de mecanismos que precisam ser aprofundados. Por exemplo, um mecanismo financeiro que apoie o que já se caracteriza como perdas e danos por mudanças climáticas. Há também mecanismos financeiros para apoiar a adaptação às mudanças climáticas e também é preciso avançar no próprio mercado de carbono”, lista o pesquisador.
Twitter/COP27
Brasil pode desempenhar papéis importantes por ser potencial recebedor de financiamento para conservar biodiversidade
Neste cenário, Ometto considera que o Brasil pode desempenhar dois papéis importantes. O país é potencial recebedor de financiamento para conservar o que tem de biodiversidade e para se adaptar aos novos tempos, mas também “por sua importância econômica e geopolítica” deve articular os mecanismos de financiamento entre países ricos e nações mais vulneráveis, como as que já sofrem as consequências das mudanças climáticas no continente africano ou na América Latina.
Ainda dá tempo?
Questionado se depois de tantos anos de inação frente aos alertas do IPCC ainda dá tempo de salvar nosso planeta, Ometto é realista.
“Vai ser um mundo diferente, talvez não o que a gente hoje considera o ideal para a biodiversidade e para as pessoas, a questão de adaptação vai ser muito forte. O que vemos é que não dá para ficar sentado esperando o que é que vai acontecer, as ações de redução e de transformação precisam ser efetivas”, conclui.