Recém-chegada a Lisboa, a marca da designer brasileira Flávia Aranha, foi criada em 2009. Seu trabalho é fruto de um longo processo de pesquisa de materiais naturais e técnicas artesanais de pequenos fornecedores espalhados pelo Brasil. O objetivo é fazer moda com ética e responsabilidade social e ambiental.
Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Lisboa
As “roupas sustentáveis” são criadas unindo técnicas ancestrais e tecnologia desenvolvidas a partir de matérias-primas naturais e tingidas com flores, ervas, chás, café, cascas de árvore. A filosofia da marca é o slow fashion – fazer moda de maneira consciente, sem produzir o que não é necessário.
“Depois que vi como funcionavam os meios de produção no Brasil e no mundo, decidi que tinha muito interesse em reconstruir essa cadeia, questionar esses valores e, de algum jeito, tentar protagonizar os artesãos, a biodiversidade brasileira”, diz Flávia.
“A ideia é valorizar tudo isso através de uma moda mais consciente, que consegue enxergar o processo de ponta a ponta, a conexão de todos os elos da cadeia produtiva. Em 2009, abri meu ateliê, já focado no tingimento natural e fibras naturais, depois de uma vasta viagem de pesquisa pelo Brasil, entendendo todas as nossas potências”, salienta.
Do uso do Pau-Brasil às cascas de romã no processo de tingimento, as peças são autorais e atemporais, sempre respeitando o princípio básico da marca: a relação harmoniosa entre o homem e a natureza. “Meu processo criativo vem muito do tingimento. Muitas vezes as coleções surgem a partir de uma planta, de uma cor, de um processo, de uma estampa, ou de alguma comunidade que a gente conhece, visita, ou de alguma técnica”, explica.
“A perspectiva do meu processo criativo vem sempre da matéria- prima, do processo em si. Isso inspira muito a gente. É um processo muito livre e baseado na construção da nossa identidade, como marca. Você pode notar que as modelagens não mudam completamente de uma coleção para outra, elas são mais perenes e vão se desenvolvendo e se transformando como um reflexo da própria vida mesmo”, explica a estilista.
Flávia faz questão de estar presente em cada etapa da cadeia produtiva entregando coleções fiéis à sua filosofia de vida. A marca recebeu, desde 2016, certificado pelo Sistema B, movimento que reconhece empresas com desenvolvimento sustentável e que resolve problemas socioambientais, provando que é possível aliar moda e sustentabilidade, conforto para o corpo e alma. Vestir uma roupa pode ser também carregar uma história e olhar para um futuro mais responsável.
“Acredito sim que a moda e a indústria podem gerar impactos positivos e mudanças bem significativas na sociedade e no mercado. Nestes nove anos, a gente conseguiu testar e experimentar novas maneiras de consumo e novas maneiras de produzir, de criar um diálogo muito profundo tanto com as pessoas que que fazem parte da nossa cadeia produtiva quanto com as pessoas que vestem a nossa roupa, na experiência do vestir e a transformação do vestir, da beleza, desta relação com o produto”, ressalta.
“As marcas têm a possibilidade de fazer a conexão, uma comunhão entre todos esses elos que envolvem a produção de uma roupa. Acredito que é muito importante abrir esses diálogos, tanto estéticos quanto conceituais, para que a indústria possa cada vez mais olhar para o futuro a partir de uma valorização do passado, da ancestralidade, das matérias brutas, da nossa biodiversidade. E que desta forma a gente possa investir em pesquisa, inovação e tecnologia. As mudanças acontecem a partir destas inovações”, conclui Flávia.
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Trabalho é fruto de um longo processo de pesquisa de materiais naturais e técnicas artesanais de pequenos fornecedores brasileiros