A Alemanha e os Emirados Árabes Unidos (EAU) prometeram aportar quase a metade dos recursos em um inédito fundo de apoio, anunciado nesta quinta-feira (30/11) durante a abertura da Conferência do Clima em Dubai (COP28), para socorrer os países mais afetados pelas mudanças climáticas.
Dos 420 milhões de dólares (R$ 2 bilhões) reservados ao fundo, os dois países devem bancar, cada um, 100 milhões de dólares (R$ 492 milhões). Outros 146 milhões de dólares (R$ 719 milhões) foram prometidos pela União Europeia. O Reino Unido acenou com 40 milhões de libras (R$ 249 milhões), além de 20 milhões de libras adicionais (R$ 124 milhões) para outros acordos, enquanto o Japão sinalizou o aporte de 10 milhões de dólares (R$ 49 milhões) e os EUA, de 17,5 milhões de dólares (R$ 86 milhões).
Países mais vulneráveis às mudanças climáticas, tais como os estados insulares – cuja existência é ameaçada pela subida do nível dos mares devido ao derretimento das geleiras – e do chamado Sul Global, têm cobrado a ajuda dos países mais ricos e industrializados, já que eles são os maiores poluidores.
No ano passado, no âmbito da COP27 no Egito, foi acordada a criação de um fundo de perdas e danos, para o qual até agora não havia sido prometido um único centavo.
O anúncio desta quinta-feira foi recebido com alívio por observadores que temiam que o fundo fosse questionado e acabasse atravancando as conversas em Dubai.
“É assim que você começa uma conferência mundial do clima”, festejou Jan Kowalzig, da Oxfam, ressaltando que o gesto dos países ricos era apenas o começo.
Mas apesar de ter sido muito ovacionado pela comunidade internacional presente ao encontro e representar um passo rumo ao apoio de países desenvolvidos a economias mais vulneráveis, o fundo ainda está longe dos 100 bilhões de dólares previstos pelo Acordo de Paris a partir de 2020, uma meta que não vem sendo cumprida.
Bundeskanzler Olaf Scholz/Twitter
Apesar de anúncio alemão, fundo ainda está longe dos 100 bilhões de dólares previstos pelo Acordo de Paris a partir de 2020
Outro ponto é que os repasses de fato ao fundo, para além das promessas feitas nesta quinta, são voluntários.
Contrariando os interesses de países em desenvolvimento, os valores devem ser administrados pelo Banco Mundial, cujos maiores acionistas são potências como Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha e Japão. Em contrapartida, os países em desenvolvimento terão presença no conselho de administração.
“O Banco Mundial é uma instituição cujos critérios de financiamento excluem muitos países em desenvolvimento”, afirma Alpha Kaloga, diplomata que cuida das negociações no lado africano relativas a danos e perdas. “Se temos que fazer um empréstimo, que seja sob condições muito oportunas.”
Cenário é de urgência climática
Líderes mundiais, ambientalistas e representantes da sociedade civil estão reunidos em Dubai para duas semanas de negociações para a proteção do clima. Espera-se que o evento atraia um público de 70 mil pessoas entre políticos, diplomatas, ativistas e lobistas representando cerca de 200 países.
Esta COP deve centrar esforços no primeiro acordo global para o abandono gradual de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás, principais responsáveis pelos altos níveis de emissão de gases do efeito estufa – e, com isso, cumprir a meta do Acordo de Paris de conter o aquecimento global a 2º C em relação ao nível pré-industrial.
Mais cedo naquele mesmo dia, a Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas (ONU) alertou que 2023 será o ano mais quente da história, com a temperatura média global subindo 1,4º C acima da média pré-industrial.
“Estamos vivendo o colapso climático em tempo real, e o impacto é devastador”, disse o chefe da ONU, Antonio Guterres, em mensagem transmitida por vídeo, ao pleitear por medidas mais rigorosas de proteção climática, como o abandono dos combustíveis fósseis. “O aquecimento global recorde deveria provocar arrepios na espinha dos líderes globais. E deveria impeli-los à ação.”