Organizações internacionais pediram ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva medidas urgentes para proteger a Amazônia em geral e para enfrentar a grave crise humanitária que atinge os indígenas yanomami.
Em declaração, a organização Survival International acusou o governo do ex-presidente de Jair Bolsonaro pela grave situação enfrentada pelos yanomami. “Ele desmantelou o serviço de saúde indígena; aplaudiu a expansão de garimpos em territórios indígenas; e ignorou os apelos desesperados de organizações indígenas, da Survival e de muitos outros quando a escala da crise ficou clara”, afirma o texto divulgado nesta terça-feira (24/01).
A organização acusa ainda os garimpeiros pelo desastre. “A crise de saúde catastrófica e sem precedentes que envolve o povo Yanomami é um genocídio que estava em andamento há anos”, destaca.
A Survival pediu ainda ao governo Lula a implementação urgente de uma lista de pontos para conter a crise, que incluem a expulsão dos garimpeiros, o envio de equipes médicas, a investigação sobre quem lucra com o garimpo ilegal, o combate ao narcotráfico e a proteção das terras indígenas.
Crise ambiental e de direitos humanos
A organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) também pediu ao governo Lula a adoção de medidas urgentes para enfrentar a crise na Amazônia e restabelecer o Estado de direito na região.
“O que estamos vendo na Amazônia é tanto uma crise ambiental quanto uma crise de direitos humanos. O governo Lula deveria mobilizar o governo em todos os níveis e coordenar com o Ministério Público o combate às redes criminosas responsáveis pela destruição do meio ambiente e pela violência fatal”, afirmou a diretora da HRW no Brasil, Maria Laura Canineu.
A ONG apresentou ainda nesta quinta-feira (26/01) um relatório sobre o impacto das redes criminosas envolvidas na grilagem de terras e na extração ilegal de madeira dentro de um assentamento no Pará. Desde 2016, a comunidade Nossa Terra é alvo de grileiros, porém, nada foi feito para removê-los.
Associação Hukerari Yanomami
Garimpo devastou área de floresta e recursos fluviais na Terra Indígena Yanomami
“A realidade no Terra Nossa evidencia como a inação do governo tem permitido a grilagem e a destruição ambiental, impulsionando a violência, acabando com meios de subsistência e, consequentemente, aumentando a pobreza”, afirma a organização.
A HRW pediu ainda que o governo Lula desenvolva um plano para a proteção da Amazônia, que vise uma atuação conjunta de órgão federais, polícias, ministérios públicos e governos estaduais “para a prevenção e a responsabilização por crimes ambientais e pela violência, inclusive desmantelando as redes criminosas” que atuam na região.
“Esse plano deveria incluir o fortalecimento da capacidade das agências de proteção do meio ambiente e dos direitos indígenas, conforme o governo Lula tem prometido, e instituir mecanismos de controle e monitoramento da cadeia produtiva do ouro, carne e outros produtos agrícolas a fim de garantir que não esteja vinculada ao desmatamento”, afirma a organização, que pede ainda a retomada da demarcação de terras indígenas e o combate à grilagem.
Crise sanitária
Maior terra indígena do país, o território yanomami foi demarcado em 1992 e fica nas florestas de Roraima e Amazonas, próximo à fronteira com a Venezuela.
A região virou terra dominada por garimpeiros a partir de 2016 – a Hutukara Associação Yanomami estima que existam atualmente 20 mil garimpeiros dentro da TI Yanomami agindo com financiamento do crime organizado e tráfico de drogas. Segundo a entidade, o garimpo cresceu 3.350% no local de 2016 a 2020.
O Ministério dos Povos Indígenas informou que 99 crianças yanomami, de idades entre um e quatro anos, morreram em 2022 em razão dos impactos do garimpo ilegal. As causas das mortes foram desnutrição, diarreia, pneumonia e outras doenças.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), mais da metade das crianças sofre de desnutrição, sendo que nas comunidades mais isoladas, esse índice chega a 80%. Em menos de dois anos, ocorreram 44 mil casos de malária na TI Yanomami, que abriga 28 mil indígenas.