Dados publicados pelo Ministério para a Transição Ecológica mostram que apenas 27.033 hectômetros cúbicos dos 56.069 disponíveis para o armazenamento de água estão abastecidos, o que equivale, percentualmente, a 48,2% da capacidade total dos reservatórios. No ano passado, nessa mesma época, as reservas de água ultrapassavam ligeiramente os 50%, contra uma média de 69% neste período do ano na última década. Ou seja, desde 2022, as reservas hídricas da Espanha apresentam uma queda alarmante.
O quadro se agrava com o fato de que o primeiro quadrimestre de 2023 foi o menos chuvoso desde quando começaram a ser realizados registros de monitoramento de precipitações, em 1961. Em março, agricultores da Catalunha retomaram um ritual surgido há 150 anos para atrair a chuva. Além disso, o mês passado foi o abril mais quente e seco já registrado. Diante de um contexto tão crítico, o governo espanhol anunciou, em 11 de maio, um plano de investimentos de € 2,19 bilhões no combate às consequências que a seca tem trazido ao país.
Os recursos serão empregados em diversas ações, sobretudo em duas grandes frentes: o aumento da disponibilidade de água e o amparo a agricultores e pecuaristas que estão sofrendo com a seca. Para auxiliar os trabalhadores do campo, estão previstas iniciativas para a contratação de seguros agrários, com subvenção do Estado.
O governo deve investir também em melhorias no aproveitamento dos recursos hídricos e em obras de infraestrutura que facilitem o acesso à água, por meio de estações de dessalinização. Além disso, estão previstos projetos de reutilização do recurso natural. Os investimentos serão distribuídos proporcionalmente pelas regiões espanholas, em função do quanto cada uma delas é afetada pela escassez hídrica.
Medidas excepcionais
Para atender as populações mais prejudicadas pela seca, o governo decidiu adiantar em duas semanas a execução do plano nacional de ações preventivas contra os efeitos do excesso de temperaturas sobre a saúde. Esse programa, implantado há 19 anos na Espanha, entrou em vigor na última segunda-feira (15), ao invés da previsão inicial em 1° de junho.
O governo espanhol ainda anunciou mudanças relacionadas à execução de tarefas profissionais, levando em conta as prováveis temperaturas elevadas nos próximos meses. Será proibido, por exemplo, realizar determinadas atividades em horários em que estejam acontecendo “fenômenos adversos” relacionados ao calor.
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Seca recorde registrada atualmente na Espanha asfixia 80% das terras agrícolas
A medida proibitiva se refere a trabalhos realizados ao ar livre ou em locais que não podem ficar fechados devido às atividades realizadas, ficando expostos ao calor. É o caso de atendentes de bares e restaurantes que trabalham em estabelecimentos abertos, jornaleiros, jardineiros e policiais, entre outros profissionais. O impedimento se dará nos horários em que os fenômenos meteorológicos adversos forem intensos e não for possível garantir a devida proteção ao trabalhador.
As circunstâncias serão avaliadas de forma individual. O critério para colocar em prática a suspensão de uma atividade profissional será poder – ou não – garantir a saúde dos envolvidos na tarefa em questão. Devem ser considerados fatores de risco, como, por exemplo, vulnerabilidades causadas por doenças, idade ou gravidez.
Em julho do ano passado, um profissional de limpeza urbana morreu em Madri de hipertermia – superaquecimento do corpo –, enquanto trabalhava na rua. De acordo com o sistema de monitoramento de mortes (MoMo) elaborado pelo Instituto de Saúde Carlos III, só em 2022, mais de 4.700 pessoas morreram em decorrência das altas temperaturas registradas na Espanha.
O verão passado bateu recordes de temperatura, com 42 dias de fortes ondas de calor. Contando também com as outras estações, o ano de 2022 foi categorizado pela Agência Estatal de Meteorologia como o mais quente e um dos mais secos da série histórica.
Prognóstico pouco otimista
Apesar de as temperaturas terem apresentado queda em diferentes regiões da Espanha na última semana, a primavera (no hemisfério norte) já registrou alguns picos de calor. A previsão é de que, além de maio, os meses de junho e julho tenham temperaturas muito superiores ao habitual em quase todo o país.
Há pouca chuva à vista, advertem os meteorologistas. Até o final de julho, as precipitações devem ficar ligeiramente abaixo do normal na maior parte da Península Ibérica. Sem previsão de chuvas significativas e com um ambiente mais quente que o normal, além de seco, o estado é de alerta diante da possibilidade de propagação de incêndios.