Houve uma troca pública de correspondências entre a missão diplomática e o presidente do grupo sueco – que também anunciou a criação de um site para ampliar sua campanha e incentivar outras redes de alimentação a se juntarem ao boicote.
Em entrevista à RFI nesta quarta-feira (12/06), o presidente e fundador da Paradiset, Johannes Cullberg, afirmou ainda que a Coop – uma das maiores redes de supermercados da Suécia – estaria considerando aderir ao boicote contra os produtos do Brasil. Nenhuma decisão por parte da Coop foi anunciada oficialmente.
Diante da carta pública publicada por Cullberg nesta quarta-feira em resposta à manifestação da missão diplomática brasileira, a embaixada do Brasil em Estocolmo afirmou que “não há mais nada a acrescentar”:
“A resposta é institucional, e já foi dada ao interlocutor. Não queremos polemizar. Apenas apresentamos argumentações para esclarecer o tema”, disse à RFI um representante da embaixada.
Governo e exportadores surpresos
O boicote da rede Paradiset aos produtos brasileiros foi anunciado no último dia 5. Em carta aberta dirigida na segunda-feira (10/06) ao presidente da Paradiset, a embaixada do Brasil afirma que a decisão sobre o boicote surpreendeu o governo brasileiro e também muitos exportadores do país.
Na carta, a embaixada aponta que, apesar de ser uma potência agrícola, o Brasil não é o maior usuário de pesticidas. “O país ocupa o quinto ou o sétimo lugar no ranking mundial, segundo parâmetros aplicáveis em estudos globais sobre o uso de pesticidas”, diz o documento.
“É preocupante que, embora muitos outros países tenham uma taxa mais alta de uso de pesticidas, apenas o Brasil tenha sido mencionado nos meios de comunicação. Nesse sentido, como você sabe, o noticiário jornalístico é em muitos casos baseado em opiniões marcadas por agendas políticas e de outra natureza, e acreditamos que tais fontes de informação não são um substituto imparcial de estudos e dados técnicos. Levar em consideração apenas opiniões generalizadas para apoiar conclusões pode dar origem a decisões injustas, uma vez que elas não refletem todos os dados disponíveis e confiáveis, e nem as situações reais”, afirma a carta da embaixada.
“Possível primeiro lugar em 2019”
Em sua resposta pública, divulgada nesta quarta-feira, o presidente do grupo Paradiset agradece à embaixada por pontuar que o Brasil não é ‘o’ maior usuário de agrotóxicos do mundo, e destaca:
“Eu saúdo vocês pela quinta posição (do Brasil) em 2017 no ranking dos países que mais utilizam agrotóxicos, mas ao que parece o país poderá na verdade ganhar o primeiro lugar em 2019”, escreve Johannes Cullberg.
O presidente da Paradiset anunciou ainda a criação de um site para ampliar o boicote aos produtos brasileiros. Com a hashtag #BoycottBrazilianFood, o site pretende incentivar outras redes de supermercado a se juntarem à campanha iniciada pelo fundador da rede sueca.
Apelo por boicote
“Como pai de três filhos e fundador da rede Paradiset de produtos naturais e orgânicos, decidi boicotar os produtos brasileiros e retirá-los de minhas lojas. Encorajo outras redes de supermercados e compradores de alimentos a parar de comprar produtos do Brasil, até que haja uma mudança na forma de produção de alimentos e que o rápido desmatamento da floresta amazônica seja interrompido”, diz a mensagem de Johannes Cullberg no novo site.
Até agora, a plataforma obteve apoio de quase 900 pessoas.
“Criamos este site para fazer um alerta ambiental ao senhor Bolsonaro, e as pessoas podem apoiar nossa campanha simplesmente apertando um botão de ‘concordo’”, disse Cullberg à RFI.
“Será difícil convencer as grandes corporações a aderir ao boicote já, mas penso que o caminho é atuar de baixo para cima, como fizeram pessoas como (a ativista ambiental sueca) Greta Thunberg”, acrescentou ele.