Equipes de resgate ainda procuram, nesta segunda-feira (10/10), por 52 pessoas que continuam desaparecidas após um deslizamento de terra que deixou 25 mortos numa cidade industrial no centro da Venezuela. As buscas não pararam durante a noite em Las Tejerias, onde os socorristas contam com cães farejadores e drones em busca de possíveis sobreviventes ou corpos das vítimas.
“Estamos trabalhando para encontrar pessoas que ainda estão desaparecidas. Essa é nossa principal tarefa no momento e temos que nos concentrar nisso”, informou o ministro do Interior venezuelano, Remigio Ceballos, a autoridades regionais.
De acordo com Ceballos, “uma quantidade recorde de precipitação” caiu sobre a cidade, alcançando o volume médio de água para um mês em apenas um dia. “Estas fortes chuvas saturaram o solo”, acrescentou o ministro, atribuindo as chuvas à “mudança climática” e à passagem do furacão Julia pelo norte da Venezuela.
As chuvas torrenciais dos últimos dias causaram o transbordamento de riachos e deslizamentos em Las Tejerias, uma pequena cidade localizada na encosta da montanha. Muitas casas e comércios foram destruídos, enquanto as ruas foram invadidas pela lama que arrastou árvores, entulhos e carros por centenas de metros.
“Cinco córregos transbordaram” e “estamos vendo danos muito significativos”, disse a vice-presidente Delcy Rodriguez, no domingo.
O acesso à cidade foi bloqueado na noite de domingo (09/10) por um grande efetivo militar e policial. As autoridades montaram vários abrigos para famílias afetadas em Maracay, capital do estado de Aragua, onde Las Tejerias está localizada.
“A cidade está perdida, Las Tejerías está perdida”, lamentou Carmen Melendez, 55, uma das moradoras desta localidade situada a cerca de 50 km da capital Caracas. A população tenta remover as toneladas de lama que invadiram as casas.
Nicolás Maduro/Twitter
Buscas continuam na cidade industrial de Las Tejerias, no centro da Venezuela
Um açougue que havia fechado por causa da pandemia de Covid-19 e estava programado para reabrir nesta segunda-feira foi coberto por sedimentos que danificaram equipamentos de refrigeração e tudo o que havia dentro. “Estávamos esperando a entrega da carne para começar depois de dois anos fechado”, disse Ramón Arvelo, um dos trabalhadores que ajudou a remover a lama. “Nunca pensei que algo dessa magnitude pudesse acontecer, é algo forte”, lamentou Loryis Verenzuela, de 50 anos, enquanto contemplava a devastação e se aproximava para oferecer ajuda.
A tragédia aconteceu após três horas de chuvas intensas que começaram na tarde de sábado (08/10), fazendo com que vários rios transbordassem e carregassem sedimentos, pedras e árvores do alto da montanha.
Luto oficial
A estação chuvosa atípica também causou as mortes de outras treze pessoas em diferentes partes do país.
Cerca de 1.000 homens participaram das operações de resgate e limpeza. Equipes utilizavam máquinas para desobstruir estradas que ficaram cobertas de detritos da enchente. O exército venezuelano anunciou que vai participar dos esforços.
O presidente Nicolás Maduro declarou três dias de luto nacional em solidariedade às vítimas.
O time de beisebol Tigres de Aragua, o esporte nacional, ofereceu seu estádio como centro de captação de recursos. Na capital, a equipe Leones de Caracas também anunciou que está coletando água mineral, produtos não perecíveis e roupas para os sobreviventes.
A Venezuela enfrenta chuvas fortes e excepcionais há várias semanas. Em 1999, cerca de 10.000 pessoas morreram em um grande deslizamento de terra no estado de Vargas, no norte do país.