O resultado das eleições nesse primeiro turno tem provocado
sentimentos diversos na sociedade e mesmo entre segmentos da esquerda
brasileira. A expressiva votação obtida por Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro
turno, que quase o levou à vitória neste domingo (07/10), projeta um cenário
complexo para a segunda etapa dessa batalha.
Por outro lado, a perspectiva de uma disputa em segundo
turno deixou um ar de frustração entre os apoiadores do candidato. É preciso
partir do entendimento de que não existe jogo jogado e a partida só termina
quando o juiz apita. Há um profundo debate a ser travado junto à sociedade
brasileira até o dia 28 no sentido da defesa da democracia, dos direitos do
povo e da soberania do país.
Assim, vale refletir sobre alguns rumos dos debates e
construção política importantes para esse segundo turno. Podemos apresentá-los
em três linhas:
PT x fascismo: Postura recorrente e previsível por parte do
Partido dos Trabalhadores que acredita ser o único porta-voz da esquerda
brasileira. Se ocorrer, seria um equívoco decisivo. O antipetismo fortaleceria
ainda mais a campanha pró-Bolsonaro e jogaria indecisos e eleitores de outros
candidatos do primeiro turno para o lado de lá. Se isso ocorrer, podemos dar a
faixa presidencial para o capitão da reserva agora.
Defesa da democracia: A polarização com Bolsonaro torna a
defesa de um Brasil democrático em grande trunfo nesse segundo turno. Essa deve
ser a bandeira em torno da qual possam se unir todos os setores possíveis.
Devemos buscar canalizar em torno da candidatura de Haddad e Manuela toda a
oposição ao #elenão expressado nas manifestações dos últimos dias ao mesmo
tempo que todos os setores interessados em um país democrático. Trabalhar,
assim, na construção de um amplo bloco social e político que supere os debates
mesquinhos e sectários sobre alianças. Assim, na foto devem estar de Guilherme
Boulos à família Marinho, passando por Requião, FHC, Alckmin, Ciro e Marina
juntamente com setores da economia nacional. Além de dividir segmentos do bloco
que apoia Bolsonaro.
Programa: A defesa da democracia deve ser o lastro em torno
do qual unifiquem-se amplos setores da sociedade brasileira. Para isso, é
preciso materializar esse amplo espectro político e social em um programa
democrático para o país. A simples defesa da democracia não ganha o povo. É
preciso apresentar alternativas para o país que visem a profunda democratização
da sociedade. Assim, democracia precisa significar comida na mesa do povo,
direitos laborais para os trabalhadores, combate ao machismo, racismo e
homofobia, além de medidas de estímulo ao desenvolvimento e à soberania
nacional.
Do ponto de vista eleitoral, cabe refletir sobre outras 3
direções:
Eleitores de Ciro, Marina, Boulos e Alckmin: há entre
aqueles que votaram nesses candidatos posições que refutaram tanto Bolsonaro
quanto o PT. Por isso, não cair na polarização PT x fascismo, assim como o
programa é estratégico. Esse eleitorado se dividirá nesse segundo turno. É
preciso disputá-lo.
Abstenções: se colocados em ordem, as abstenções ficariam em
terceiro lugar nesse pleito. Em geral, são pessoas que estão desmotivadas e
descrentes no sistema político brasileiro. Ainda que expressem uma tendência
das últimas eleições convencê-los a votar e, mais que isso, fazê-lo para
fortalecer a candidatura democrática é uma tarefa central.
Tirar votos da candidatura fascista: esses eleitores agem
como se estivessem imbuídos de uma verdade absoluta. Acreditam que aquilo que
defendem são fatos e contra fatos não há argumentos. São a maior parcela
daqueles que se informam através de redes sociais. Esses são espaços para a
difusão de informações descontextualizadas, parciais e difusas e são assumidas
como verdade por parte desses eleitores. Nesse cenário, muitas pessoas de
formação humanista e progressista tem caído no canto da sereia. É fundamental
ter uma estratégia para esse público.
Por fim, deve-se compreender que esses eixos e linhas se
desenvolvem simultaneamente. Tudo ao mesmo tempo o tempo todo. Como disse Mao
Tse Tung, é preciso usar as duas mãos para tocar o piano. E vale agregar: não
se pode esquecer dos pedais. Entretanto, não evoluem de maneira linear nem
harmônica, assim como não respondem a simples atos de vontade ou desejo.
Sem confundir com posturas conciliatórias ou frouxas o
caminho não é o da confrontação. Isso apenas fortalece o lado de lá. É momento
para fazer amigos e não inimigos. A principal tarefa desse segundo turno é
ganhar corações e mentes para a defesa da democracia, que pressupõe a
democratização da sociedade brasileira em uma grande convergência democrática,
assim como foi a campanha das Diretas.
*Mateus Fioretini é
professor de história formado pela PUC-SP e mestrando junto ao Prolam da USP.
Foi secretário Executivo da OCLAE, diretor de Solidariedade Internacional da
UJS e integrou a Comissão Nacional de RI do PCdoB. Atualmente é membro da seção
paulista da Fundação Maurício Grabois. Publicado em Vermelho.
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