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As restrições de trabalho à Bulgária e Romênia, desde a entrada na União Europeia, serão liberadas em 2014 – e temidas por britânicos
A poucos dias de um esperado discurso do premiê britânico, David Cameron, sobre o futuro do Reino Unido na Europa, o governo se recusou a estimar quantos trabalhadores da Bulgária e da Romênia se mudariam para a ilha depois que os limites temporários de trabalho forem revogados, em 31 de dezembro de 2013. Um grupo de analistas, porém, estima em 50 mil trabalhadores por ano durante os próximos cinco anos.
O Reino Unido é um dos destinos mais atrativos para imigrantes “em parte por causa do mercado de trabalho flexível e da facilidade de acesso ao bem estar social”, diz o Migration Watch UK, responsável pela pesquisa. Justamente por isso o presidente Andrew Green alerta que “é provável que a escala tenha consequências significantes para a habitação e serviços públicos”, além de “aumentar a competição que trabalhadores britânicos já enfrentam”.
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O grupo se baseou no fluxo de imigrantes da Polônia e outros países do Leste Europeu que vieram após 2004, quando integraram a UE (União Europeia), mas espera que nove anos depois venham menos pessoas, inclusive porque outros países também levantarão a barreira.
A estimativa, porém, pode variar entre 30 e 70 mil búlgaros e romenos a cada ano e o grupo admitiu que não havia “base estatística pura” na produção das estimativas e que “foi uma questão de julgamento a partir dos fatos”. Por outro lado, o cálculo de 155 a 425 mil em apenas dois anos, do parlamentar conservador Phillip Hollobone, “parece exagerada”.
“Dado que temos uma escassez de habitação, qualquer influxo da Bulgária e Romênia causará problemas”, disse Eric Pickles, Secretário de Estado para Comunidades e Governo Local, à BBC. “Estamos trabalhando para cortar a migração de centenas de milhares para dezenas de milhares até o fim desse Parlamento e nossas duras regras já estão fazendo efeito, com a migração geral caindo um quarto no ano passado”, complementou uma porta-voz do departamento doméstico britânico. Theresa May, secretária do órgão, já havia indicado que é a favor de dar um fim à livre movimentação de trabalhadores da EU.
Cameron está sob pressão de membros do Partido Conservador e Unionista (que governa o país com a coalizão dos Liberais Democratas, do qual o primeiro-ministro faz parte) para que se posicione para repatriar poderes atualmente nas mãos da UE, o que permitiria ao Reino Unido estabelecer suas próprias políticas imigratórias. O premiê criou um comitê ministerial para examinar as leis de acesso a benefícios imigrantes.
Um documento da Agência de Fronteira britânica, escrito no fim de 2011 para definir se deveria ser estendida a política de trabalhadores imigrantes de países que entraram por último na UE — Bulgária e Romênia, em 2007 –, concluiu que a liberação de trabalho causaria a vinda de mais trabalhadores estrangeiros causaria prejuízos a trabalhadores residentes e a salários. Permissões seriam normalmente concedidas a estrangeiros com uma proposta de trabalho específica, quando o empregador já não tiver achado um britânico qualificado.
O período máximo de sete anos de restrições a partir da entrada dos países na UE é dividido em três partes. É permitido pelos dois primeiros anos após a entrada dos países no bloco, estendidos por mais três, e depois continuados pelos últimos dois somente se o mercado de trabalho doméstico estiver experimentando distúrbios ou ameaças sérias. Assim, as restrições não podem ultrapassar o último dia de 2013.
Visão búlgara
Um artigo do The Guardian joga outra luz à questão. Para Ivan Krastev, e falando em nome da Bulgária, o medo do governo britânico de que haja uma imigração de pobres em busca de benefícios sociais é exagerado. E mais: Cameron, consciente de que seus cidadãos estão preocupados com a imigração, quer se mostrar incisivo no assunto e angariar votos.
Para isso, menciona o estudo sobre migração trabalhista conduzido ano passado pelo Open Society Insitute, de Sofia, intitulado “Restrições fazem sentido?”. O relatório indica que a maior onda de emigração do país aconteceu nos anos 1990, e desde a inclusão do país na UE, em 2007, os números na verdade declinaram. As restrições ao mercado de trabalho inglês nem teriam afetado a escolha de destino de búlgaros: eles preferiram ir à Espanha, que tem seu mercado de trabalho aberto, e à Alemanha, que ainda tem as restrições.
O desemprego búlgaro é de 12,4%, menor que dos gregos e espanhóis. Mais de 84% dos búlgaros ciganos, também chamados de população Roma e muito criticados pela “delinquência” e “preguiça de trabalhar”, possui trabalho no exterior. Eles, aliás, preferem ir a países como Grécia, com menores custos de viagem e clima mais favorável. Para Krastev, os búlgaros provavelmente não foram as vítimas corretas, mas eram as mais convenientes.
* Com informações de The Telegraph e The Guardian