O Congresso da Colômbia decidiu nesta quarta-feira (19/05) arquivar um projeto de reforma da saúde após diversos protestos que ocorrem em massa no país há 24 dias repudiarem a medida.
Em três horas de sessão, por 11 votos a favor e dois contrários no Senado, e 16 votos sim e três não na Câmara dos Deputados, as comissões que discutiram a iniciativa protocolaram o projeto de reforma que havia sido apresentado em julho de 2020.
O projeto pertencia à bancada da Mudança Radical, aliada do governo de Iván Duque, e previa diversas mudanças no setor. Segundo as organizações sociais que estão nas ruas, o projeto visava algumas privatizações na saúde.
A decisão é uma conquista para o Comitê Nacional de Greve que há três semanas lidera as manifestações na Colômbia e que, embora não tivesse entre suas prioridades o repúdio a este projeto, posteriormente a adicionou às demandas.
Com o arquivamento das propostas de reformas sanitária e tributária, outras demandas reivindicadas pela mobilização popular no país são o fim da brutalidade policial, o reforço da campanha de vacinação maciça contra a covid-19 e a criação de uma renda básica à população.
No balaio das mudanças no governo, ainda nesta quarta o presidente Duque nomeou como ministra das Relações Exteriores Marta Lucía Ramírez, então vice-presidente do país. A nomeação acontece após Claudia Blum deixar o Ministério em meio aos protestos e mobilizações sociais.
“O país conhece sua vasta experiência tanto no serviço público como no setor privado. Seus desafios: fortalecer as relações bilaterais e a presença do país em organizações multilaterais e fazer avançar a política de migração”, declarou o presidente no Twitter.
Congreso de Los Pueblos
Manifestação em Popayan, Cauca, nesta quarta-feira contra medidas neoliberais de Iván Duque
Os protestos foram deflagrados em 28 de abril após o então ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, apresentar um projeto de reforma tributária ao Congresso colombiano. No dia 2 de maio, Duque anunciou a retirada do projeto. Em 3 de maio, Carrasquilla pediu demissão do cargo.
Protestos
Em mais um dia de manifestações nas cidades colombianas nesta quarta, novas ações repressivas foram registradas nas marchas. Denúncias de abusos de autoridade e violência por parte do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad) foram registradas em Popayán, no departamento de Cauca. Segundo relatos, as forças de segurança jogaram bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes em frente a um hospital, afetando pacientes e médicos do centro de saúde.
Na cidade de Bucaramanga, em Santander, estudantes da Universidade Industrial solicitaram a criação de um corredor humanitário para a transferência de feridos. Os manifestantes afirmaram, de acordo com a emissora Telesur, que na noite de quarta-feira dois tanques da Polícia Nacional invadiram a cidadela universitária.
Na capital colombiana, em Bogotá, houve relatos de ataques da Esmad contra civis, que protestavam no Portal de las Américas. A cidade de Medellín também registrou violência e feridos.
A Procuradoria declarou que 15 vítimas morreram por terem participado das mobilizações. Outros 11 casos são investigados. Um relatório da ONG Temblores aponta para 43 homicídios cometidos por agentes de segurança do Estado.