A organização política Faísca Revolucionária vaiou o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante seu discurso no 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), na noite da última quarta-feira (12/07).
Opera Mundi entrevistou Odete Cristina, mestranda da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante do Faísca, movimento da “juventude comunista e revolucionária, impulsionada pelo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) e que se baseia nas ideias do marxismo revolucionário, que tem sua continuidade na tradição trotskista”.
Segundo a estudante a vaia contra Barroso parte da visão da organização sobre o espaço cedido ao ministro, que já atuou contra a esquerda em diversos momentos.
“Barroso foi um dos articuladores do golpe institucional de 2016, votou favoravelmente à prisão de Lula e recentemente atacou o piso da enfermagem. Em nossa visão, ao invés de dar palanque para ministros do Estado capitalista e desse regime burguês, um congresso estudantil deveria dar voz aos setores em luta, como as trabalhadoras da enfermagem”, declara.
Cristina também aponta para os “laços orgânicos” que Barroso tem com os Estados Unidos, seu voto em apoio ao homeschooling do bolsonarismo e à chamada “MP da Morte”, de Bolsonaro e do então ministro da Economia, Paulo Guedes, que autorizava as empresas a fazerem acordos individuais de redução de até 100% do salário durante a pandemia.
“Barroso é um grande defensor dos interesses do pagamento da dívida pública em detrimento do salário e dos direitos sociais. Não faltam exemplos do que essa ascensão política do STF, da qual Barroso se gaba, traz para a classe trabalhadora e para a juventude” declara a Opera Mundi.
Na análise do movimento, apesar do discurso de Barroso criticando a ditadura militar brasileira (1964-1985) e o governo de Jair Bolsonaro, o ministro “não é um aliado na defesa dos direitos democráticos e na luta contra o bolsonarismo, mas sim um representante do autoritarismo judiciário racista, que encarcera o povo negro e ataca os trabalhadores”.
Para o Faísca, o ministro quer “aparecer como uma figura democrática”. “Não vamos cair nessa demagogia pois além de ter aberto caminho para a ascensão da extrema-direita, Barroso apoiou inúmeros ataques, como a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita”.
Em sua leitura, o discurso do ministro do STF exaltando a democracia e condenando o bolsonarismo não passa de “alas da burguesia que têm diferenças sobre a governança dentro do sistema capitalista, mas se alinham quando atacam os direitos da classe trabalhadora e da juventude”.
De acordo com a estudante, ao trazer Barroso para discursar no Congresso da UNE, a organização “tentou vender uma falsa ideia de que o Judiciário pode ser nosso aliado”.
Por sua vez, após o ocorrido, a UNE divulgou uma nota repudiando “a atitude antidemocrática de grupos minoritários, que na abertura do 59º Congresso da entidade desrespeitou a fala dos familiares de Honestino Guimarães [líder estudantil preso e morto durante a ditadura] e do ministro do STF Luís Roberto Barroso”.
Wikicommons
Para movimento Faísca, Barroso "não é um aliado na defesa dos direitos democráticos e na luta contra o bolsonarismo"
Diante da manifestação contrária, o Faísca considera “ridículo que para esconder sua política de se aliar com o inimigo da enfermagem e articulador do golpe institucional de 2016” sejam inventadas fake news sobre o Faísca desrespeitar os familiares de Guimarães. Segundo ela, a manifestação contra Barroso não aconteceu durante a mesa dedicada à homenagem do líder estudantil.
Para ela, a resposta da UNE vem como uma tentativa de “sustentar sua política de alinhamento com setores que defendem políticas” da extrema direita.
“Com nossa intervenção, mostramos que existe dentro da UNE uma oposição que não aceitou calada a conciliação da majoritária e isso impactou diversos setores dentro do plenária de abertura. Recebemos centenas de mensagens de agradecimento de trabalhadores da saúde e de estudantes da Enfermagem”, declarou.
O Congresso da UNE teve início nesta quarta-feira (12/07) e seguirá até o domingo (16/07), em Brasília, no Distrito Federal. Para os organizadores, este é “o maior encontro político da juventude brasileira”.
Segundo Cristina, a questão central do evento neste ano é se a UNE vai “se subordinar ao governo de frente ampla e sua política de conciliação, que abre espaço para a extrema-direita, ou se vai ter uma política independente para organizar os estudantes ao lado da classe trabalhadora, dos indígenas e de todos os setores oprimidos”.
Durante os dias do encontro, a UNE organiza “debates e grandes atos políticos, além de atividades culturais”. Também contará com a presença de personalidades políticas, em especial, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica.
Sou grato a UNE porque desde que tomei posse, em 2003, não teve um momento que a UNE não estivesse junto para defender a educação. Para defender o Prouni, o Reuni e a popularização da universidade.
— Lula (@LulaOficial) July 13, 2023
Uma das principais pautas defendidas pelos estudantes perante Lula é a revogação do Novo Ensino Médio, cujo tema foi central na carta enviada ao presidente, na esteira do Congresso.
O manda´tário afirmou que a demanda estudantil é “extraordinária” e afirmou que o governo é “capaz de cumprir” o pedido. No entanto, Cristina questiona a revogação e lembra da aprovação do arcabouço fiscal, que segundo ela, precariza ainda mais as vidas dos trabalhadores e estudantes.
“Não achamos que o congresso estudantil deva ser palanque para aqueles que administram o Estado burguês, por isso construímos o ato “é a conciliação que abre espaço para a extrema-direita, abaixo o arcabouço fiscal de Lula-Alckmin e o novo ensino médio”, para marcar essa posição de independência de classe que defendemos para a entidade”, finalizou.
(*) Com Brasil247