Dias depois do fracasso na tramitação da Lei Ônibus no Congresso, o governo de Javier Milei na Argentina se choca com uma nova crise, desta vez dentro do próprio partido do presidente, a legenda de extrema-direita A Liberdade Avança.
Nesta quinta-feira, a deputada Rocío Bonacci, militante do partido governista, protocolou um projeto de lei que propunha a revogação da Lei do Aborto, promulgada em 2021 pelo então presidente Alberto Fernández (2019-2023).
A iniciativa gerou polêmica no país devido à reação negativa até mesmo de outros representantes do A Liberdade Avança e membros de outros partidos da coalizão que sustenta o governo no Congresso – como o Proposta Republicana, liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019).
Segundo o diário Página/12, o grupo de parlamentares descontentes avalia que o lançamento do projeto neste momento em que o governo sofreu uma derrota política importante pode gerar um desgaste ainda maior à imagem do presidente Milei.
Efetivamente, a divulgação da notícia fez com que centenas de coletivos feministas convocassem assembleias regionais e comunitárias para debater um possível ato unificado em defesa da legislação atual.
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Movimento feminista realizou massivos atos na Argentina entre 2017 e 2021, até a promulgação da lei que legalizou o aborto no país
Até mesmo a deputada Lilia Lemoine, conhecida por seu discurso antifeminista e pivô de polêmica durante a campanha eleitoral por prometer criar um projeto para facilitar a renúncia à paternidade por parte dos homens – o que os coletivos feministas descrevem como “aborto masculino” – criticou a iniciativa da colega de partido, dizendo que “colocaram meu nome no projeto porque eu disse que iria apoiar, mas antes, também disse que agora não era o momento adequado para debater isso, mas ainda assim fui incluída na lista”.
A declaração de Lemoine abriu uma discussão ainda maior dentro do partido, já que a própria Rocío Bonacci admitiu, a partir dessa queixa da colega de bancada, que a lista de deputados cujos nomes parecem como apoiadores do projeto não está baseada em assinaturas dos mesmos e sim considerando aqueles que deram “joinha” ao documento que ela compartilhou no grupo de WhatsApp do partido.
A partir de então, a deputada Bonacci – considerada dentro do partido como uma figura mais leal à vice-presidente Victoria Villaruel que ao presidente Milei – passou a defender o projeto como uma iniciativa própria.
“Os deputados podem e devem apresentar projetos. Este é um projeto meu, não do governo do presidente Milei. Sou uma incansável defensora da vida desde a concepção e meus eleitores votaram em mim por isso”, afirmou a parlamentar extremista em suas redes sociais.
Com informações de Página/12.