O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta terça-feira (30/05) a reunião de líderes dos países da América do Sul, em Brasília. A iniciativa busca promover a retomada de cooperações entre as nações.
No discurso, Lula ressaltou a necessidade de uma integração regional, defendendo que a América do Sul tem “mais uma vez a oportunidade de trilhar o caminho da união”.
Para o presidente, essa retomada não precisa “recomeçar do zero”, citando os esforços já realizados na região para esse fortalecimento, ressaltando o papel da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Segundo ele, o bloco é “um patrimônio coletivo”.
“Lembremos que ela está em vigor. Sete países ainda são membros plenos. É importante retomar seu processo de construção”, disse o mandatário, apontando que é necessário “avaliar criticamente o que não funcionou e levar em conta essas lições” para uma nova coordenação regional.
Lula defendeu o legado da Unasul, declarando que o bloco foi efetivo como um “foro de solução de controvérsias entre países da região” e permitindo que as nações se conhecessem melhor.
“Por mais de dez anos, a Unasul permitiu que nos conhecêssemos melhor. Consolidamos nossos laços por meio de amplo diálogo político que acomodava diferenças e permitia identificar denominadores comuns. Implementamos iniciativas de cooperação em áreas como saúde, infraestrutura e defesa”, afirmou Lula.
De acordo com o brasileiro, foi essa união que tornou a América do Sul uma “realidade política”, quando “deixou de ser apenas uma referência geográfica”. No entanto, Lula destacou que os avanços conquistados “foram interrompidos nos últimos anos”, destacando que, no Brasil, um “governo negacionista” optou “pelo isolamento do mundo e do seu entorno”.
“Na região, deixamos que as ideologias nos dividissem e interrompessem o esforço da integração. Abandonamos canais de diálogo e mecanismos de cooperação e, com isso, todos perdemos”, disse.
Covid-19, guerra na Ucrânia e golpismo
Para Lula, a reunião desta terça marca os “primeiros passos para retomar o diálogo enquanto região”. Porém, o presidente ressaltou que a realidade do mundo é um contexto “ainda mais desafiador do que foi no passado”.
O brasileiro recordou que a região sul-americana foi uma das mais afetadas durante a pandemia da covid-19, destacando que a crise sanitária mundial “escancarou antigas desigualdades e gerou novas injustiças”.
Ricardo Stuckert
Lula recebeu 10 líderes sul-americanos em Brasília para reunião nesta terça-feira (30/05)
Além disso, Lula também apontou os efeitos da guerra na Ucrânia para a América do Sul, que, segundo ele, “desestabilizou o mercado de energia e de fertilizantes e provocou a volatilidade dos preços dos alimentos, deteriorando nossas condições de vida”.
“Quando as cadeias de suprimento globais foram afetadas por esse conjunto de fatores, nossas carências em infraestrutura e nossas vulnerabilidades externas foram expostas”, disse.
Ainda no discurso, o presidente recordou os ataques golpistas que ocorreram no Brasil, apontando que o episódio “nos ofereceram uma trágica síntese da violência de grupos extremistas, que se valem de plataformas digitais para promover campanhas de desinformação e discursos de ódio”.
“Nenhum país poderá enfrentar isoladamente as ameaças sistêmicas da atualidade. É apenas atuando unidos que conseguiremos superá-las”, declarou.
“Que papel queremos para a América do Sul?”
Lula também apresentou aos seus homólogos 10 propostas para serem discutidas durante a cúpula e que podem ser utilizadas para a retomada da integração.
De identidade regional ao desenvolvimento econômico da América do Sul, questões sociais e de meio ambiente, presidente brasileiro ressaltou o desejo de uma moeda comum na América do Sul que reduza a “dependência de moedas extrarregionais”.
“Estou, no entanto, pessoalmente convencido da necessidade de um foro que nos permita discutir com fluidez e regularidade e orientar a atuação de nossos países para o fortalecimento da integração em várias de suas dimensões”, disse.
Nesse sentido, o presidente falou da criação de um “grupo de alto nível” a ser construído por representantes das presidências sul-americanas a fim de “dar seguimento ao trabalho de reflexão”. De acordo com Lula, a partir do que for decidido nesta cúpula, o grupo terá 120 dias para apresentar um “mapa do caminho para a integração da América do Sul”.
“Enquanto estivermos desunidos, não faremos da América do Sul um continente desenvolvido em todo o seu potencial”, declarou o petista, afirmando que, anteriormente, “deixamos que as ideologias nos dividissem e interrompessem o esforço da integração”.