“A guerra é boa para os negócios.”
Foi o que disse um executivo do setor de defesa numa conferência de armamentos em Londres, no mês passado, e é o que se refletiu no mercado de ações na segunda-feira (9), quando Israel bloqueava e bombardeava a Faixa de Gaza – atingindo a principal universidade do território palestino ocupado, prédios residenciais, um campo de refugiados e um dos principais hospitais em resposta ao ataque do Hamas no fim de semana, que matou centenas de israelenses.
Os Estados Unidos, que já fornecem a Israel 3,8 bilhões de dólares em assistência militar anual, preparam-se agora para enviar mais armamento e fornecer outros meios de apoio. Enquanto isso, as ações de empresas americanas e europeias que lucram com a guerra dispararam na segunda-feira.
Empresas norte-americanas como a Lockheed Martin, Northrop Grumman e RTX – anteriormente conhecida como Raytheon – foram todas agraciadas com a alta no mercado de ações, assim como as principais empresas britânicas, francesas, alemãs e italianas, segundo o The Wall Street Journal.
O canal de TV Fox Business noticiou que “as ações da General Dynamics, que fabrica submarinos e veículos de combate, registraram a maior alta desde março de 2020, quando atingiram mais de 9%”.
“A alta das ações da Lockheed Martin na segunda-feira foi a maior registrada para a maior empresa de defesa dos EUA em um dia não lucrativo desde março de 2020, superando por pouco os ganhos obtidos imediatamente após a Rússia lançar sua invasão em grande escala da Ucrânia”, registrou a revista Forbes. “As ações da Northrop Grumman também tiveram seu melhor dia desde 2020.”
O jornal de investimentos Barron’s apontou que “separadamente, o conselho da Lockheed aprovou na sexta-feira a expansão do programa de recompra de ações da Lockheed em 6 bilhões de dólares, e a empresa aumentou seus rendimentos trimestrais de 3,15 para 3 por ação”.
Comentando sobre o derramamento de sangue em Israel e Gaza nos últimos dias, Sameer Samana, estrategista sênior sobre mercados globais do Wells Fargo Investment Institute, disse ao portal financeiro MarketWatch que “claramente é uma enorme tragédia humanitária”.
“Parece que estamos entrando numa etapa diferente a nível mundial no que diz respeito à geopolítica”, acrescentou, com novos conflitos parecendo mais prováveis em comparação com as últimas décadas. “Como os países precisam reabastecer seus estoques de armas, acreditamos que as empresas do setor de defesa se sairão muito bem.”
Israel Defense Forces / Flickr
Soldados israelenses durante operação "Breaking Dawn", em agosto de 2022
Menos de dois meses após a invasão russa, no ano passado, William Hartung, pesquisador sênior do Quincy Institute for Responsible Statecraft, destacou a forma como tais conflitos beneficiam a indústria bélica, escrevendo para o portal independente TomDispatch que “a guerra na Ucrânia constituirá, de fato, uma benção para empresas como a Raytheon e a Lockheed Martin”.
“Em primeiro lugar, haverá contratos de reabastecimento de armas como o míssil antiaéreo Stinger da Raytheon e o míssil antitanque Javelin produzido pela Raytheon/Lockheed Martin, já fornecidos por Washington à Ucrânia aos milhares“, explicou. “A maior fonte de lucros, no entanto, virá dos aumentos garantidos pós-conflito nos gastos com segurança nacional aqui e na Europa, justificados, pelo menos em parte, pela invasão russa e pelo desastre que se seguiu.”
Em dezembro passado, na Forbes, Hartung advertiu sobre a possibilidade da guerra Rússia-Ucrânia ser usada para uma expansão permanente indústria de armas:
“Os planos que têm sido apresentados até o momento incluem a construção de novas fábricas de armamentos, um drástico aumento na produção de munições, armas anti-tanque e outros sistemas, e a flexibilização da supervisão para a aquisição de armas. Essas mudanças implicarão em um custo que, ao longo do tempo, chegará a dezenas de bilhões de dólares acima dos planejamentos de gastos atuais, e possivelmente mais – muito mais.
Este esforço para expandir rapidamente o tamanho e o alcance do complexo militar-industrial é desnecessário e insensato. A pressa em fazê-lo, ao mesmo tempo que se reduzem as garantias existentes contra o desperdício e a má utilização de recursos, implica no risco de promover a manipulação de preços e a produção abaixo dos padrões, ao mesmo tempo que se imobilizam fundos que poderiam ser utilizados de forma mais eficaz em outras prioridades urgentes.”
Os preços do petróleo também subiram na segunda-feira, em resposta à violência no Oriente Médio. A Associated Press explicou que “a área do conflito não possui uma grande produção petrolífera, mas os receios de que os combates possam afetar a política em torno do mercado do petróleo fizeram com que o barril de petróleo americano subisse 4,1%, para 86,16 dólares. O petróleo Brent, o padrão internacional, subiu 3,9%, para 87,91 dólares por barril”.
(*) Tradução de Raul Chiliani