O presidente do Equador, Lenín Moreno, acuado por conta das diversas manifestações contra um pacote econômico de traços neoliberais, que incluem o fim de subsídio aos combustíveis, anunciou na noite desta segunda (07/10) que transferiu a sede do governo para Guayaquil, cidade a cerca de 420 quilômetros ao sudoeste de Quito, a capital do país.
“Transladei-me a Guayaquil e transladei a sede do governo da esta querida cidade de acordo com as atribuições constitucionais que me competem”, afirmou, em rede nacional de TV. Junto a ele, estavam o comando militar do país e o vice-presidente Otto Sonnenholzner.
A transferência da sede de governo aconteceu no mesmo dia em que uma mobilização de indígenas chegou à capital. De acordo com o jornal El Comércio, ao menos cinco saídas de Quito estão fechadas por conta das manifestações.
Moreno disse que não irá retroceder nas medidas anunciadas e afirmou que os protestos que paralisaram o país não configuram “uma manifestação de descontentamento”. “Os saques, o vandalismo e a violência demonstram que há uma intenção de romper a ordem democrática”, disse.
O presidente acusou o ex-mandatário Rafael Correa, de quem era vice e com quem rompeu logo após ser eleito, de estar tentando “um golpe de Estado” com apoio da Venezuela. Correa, que mora na Bélgica, chamou o mandatário de “títere” e pediu sua renúncia. “Por favor, Moreno, renuncie! Não faça isso com nossa gente!”, tuitou.
Correa, por sua vez, disse que não é golpista. “Os golpistas têm sido eles, que partiram a Constituição quantas vezes quiseram”, disse, em entrevista à emissora RT.
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Presidente Lenín Moreno (centro) transferiu sede do governo para Guayaquil
No último dia 2, Moreno anunciou uma série de medidas com a justificativa de “reativar” a economia após um empréstimo do FMI (Fundo Monetário Internacional). Entre as decisões, está o fim dos subsídios aos combustíveis e a redução salarial de empregados públicos temporários.
Após a transferência de Moreno para Guayaquil, segunda maior cidade do país, o ex-prefeito e líder do Partido Social Cristão (PSC), Jaime Nebot, convocou os cidadãos da região a “defenderem a democracia dos atos de vandalismo”, em referência aos manifestantes que pedem a renúncia do presidente equatoriano.
Protestos e estado de exceção
Os sindicatos de trabalhadores e o movimento indígena do Equador, junto a outros grupos da sociedade civil organizada, convocaram no último sábado (05/10) uma greve a nível nacional para o próximo dia 9 de outubro e anunciaram um estado de mobilização permanente até que Moreno desista do pacote de arrocho econômico.
As manifestações no Equador começaram logo após o presidente anunciar o fim dos subsídios nos combustíveis, devido ao acordo de US$ 4,2 bilhões firmado em fevereiro com o FMI, que prevê reformas tributárias, trabalhistas e monetárias no país.
Os protestos levaram Moreno a decretar um estado de exceção em todo o país, por 60 dias. Pelo menos 379 pessoas foram presas desde a noite da última quinta (03/10) – dentre os quais, vários líderes dos sindicatos de transporte.
Segundo a polícia equatoriana, já foram presas mais de 470 pessoas, incluindo líderes de movimentos populares e dirigentes sindicais.
(*) Com teleSUR