Um porta-voz do grupo fundamentalista islâmico Talibã, que assumiu o poder no Afeganistão, disse nesta terça-feira (17/08) que os cidadãos do país terão as “próprias regras”, mas seguindo os “valores” da organização.
Representando o grupo, o porta-voz talibã Zabihullah Mujahid afirmou que os afegãos terão esse “direito”, defendo que outros países também respondem por leis seguindo “regras e abordagens diferentes”.
“Nós temos o direito de agir segundo nossos princípios religiosos, outros países têm regras e abordagens diferentes, e os afegãos têm o direito de ter as próprias regras de acordo com nossos valores”, destacou Mujahid. O porta-voz ressaltou que o grupo não quer “ter problemas” com a comunidade internacional, declarando que os direitos das mulheres também serão assegurados sob a Sharia, a lei islâmica.
Segundo Mujahid, a ação militar do Talibã, que conquistou o país neste domingo (15/08) após o presidente Ashraf Ghani renunciar ao cargo e fugir do país, foi uma medida para “libertar” o Afeganistão, sendo motivo de “orgulho para toda a nação”.
“Esse é um momento de orgulho para toda a nação. Depois de 20 anos de luta, nós libertamos o Afeganistão e expulsamos os estrangeiros. Queremos assegurar que o país não será mais um campo de batalha. Perdoamos todos aqueles que lutaram contra nós e as animosidades terminaram. Não queremos mais inimigos externos nem internos”, disse.
Questionado sobre como o grupo lidará com o terrorismo, incluindo a vertente dentro da próprio organização, especialmente com os membros da Al Qaeda, Mujahid afirmou que “o solo afegão não será utilizado contra ninguém e nós garantimos isso”.
A retomada do poder pelo Talibã coloca um fim de fracasso à invasão norte-americana apoiada pelos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Após o grupo assumir o controle, diversos países estão fazendo trabalhando para evacuar suas equipes do território.
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Talibã conquistou o país neste domingo (15/08) após o presidente Ashraf Ghani renunciar ao cargo
Direito das mulheres afegãs
A sensação de insegurança com mulheres e crianças se instaurou desde que o talibã tomou o poder novamente no domingo. Isso porque no primeiro governo talibã, entre 1996 e 2001, os direitos das afegãs foram colocados em xeque pelo grupo.
Durante a coletiva de imprensa, o representante do Talibã disse que “não haverá discriminações” de gênero. Mujahid afirmou que o grupo vai se comprometer com os direitos das mulheres e que “elas trabalharão lado a lado conosco”.
Ele afirmou ainda que as burcas não serão obrigatórias para as mulheres ao saírem de suas residências – como era no antigo governo talibã. Mas, o hijab – o véu sobre a cabeça – será necessário sempre. No entanto, ele não deu detalhes de como o novo regime definirá esse uso.
Uma foto publicada na tarde desta terça-feira pelo jornal britânico The Guardian mostrou um grupo de mulheres afegãs segurando cartazes e protestando pela proteção do direito feminino em frente ao Palácio Presidencial de Cabul.
Perguntado se as mulheres poderão ter qualquer profissão, como serem jornalistas, Mujahid disse que aguarda as “novas leis e regulamentações” para definir sobre os cargos. Ele ainda garantiu que os talibãs querem a mídia “independente, mas que não lute contra os valores islâmicos”. Já sobre os estudos femininos, que também eram proibidos no país no pré-2001, o representante garantiu que as mulheres poderão frequentar “dos jardins de infância às universidades”.
Ainda nesta terça, a jornalista Beheshta Arghand do canal afegão TOLO News conversou com o porta-voz do grupo Mawlawi Abdulhaq Hemad, algo que, de acordo com a emissora, é a primeira vez que acontece dentro do país com um membro do talibã.
“Dissemos a eles, olhe, uma mulher vai entrevistá-lo. E eles disseram que tudo bem”, afirmou Saad Mohseni, o fundador do TOLO News, ao Guardian. A emissora havia enviado repórteres mulheres para casa no domingo, quando houve a tomada de Cabul. Dois dias depois elas voltaram ao trabalho.
(*) Com Ansa.