A notícia de que a viagem oficial do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, à China seria adiada indefinidamente por razões de saúde desestabilizou a organização da visita. Mais de 200 representantes de empresas do Brasil fazem parte do grupo que acompanharia o chefe de Estado. Diante da importância da viagem ao país asiático – e do fato de que muitos membros da delegação já estão em Pequim –, a agenda empresarial deve ser mantida.
Já estava tudo pronto e todos esperavam para ver o simbólico aperto de mão entre Lula e o presidente chinês, Xi Jinping, previsto para acontecer na terça-feira (28/03) em Pequim. O encontro dos dois líderes era o ponto alto da visita oficial do brasileiro à China, que contaria ainda com reuniões com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji, além de uma passagem pela sede do Novo Banco de Desenvolvimento, entidade criada pelos Brics (grupo formado por Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul), em Xangai.
Com o anúncio do cancelamento da visita de Lula por razões médicas, as autoridades de ambos os países tiveram que se adaptar. O ministro brasileiro da Fazenda, Fernando Haddad, anulou sua viagem, assim como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O chanceler Mauro Vieira, que deveria desembarcar em Pequim vindo da República Dominicana, onde participava da Cúpula Ibero-Americana, mudou a rota e já voltou para Brasília. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, já estava na capital chinesa, onde participou na quinta-feira (23/03) da abertura da Cotton Industry Development Conference.
Em função de orientação médica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu adiar sua viagem à China. O adiamento já foi comunicado para as autoridades chinesas com a reiteração do desejo de marcar a visita em nova data. #EquipeLula
— Lula (@LulaOficial) March 25, 2023
Do lado chinês, o governo informou em nota que “manifesta compreensão e respeito, expressa cumprimentos ao presidente Lula e deseja sua rápida recuperação”. O Ministério chinês das Relações Exteriores frisou ainda que “continuará a manter contato com o lado brasileiro sobre questões relacionadas à visita”.
Bem além da política
Mas a passagem de Lula pela China iria bem além dos aspectos políticos, e outros eventos estavam agendados e eram bastante aguardados pela delegação de mais de 200 empresários que participam da viagem. Na segunda-feira (27/03), o Fórum China-Brasil de Desenvolvimento Sustentável, promovido pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), previa reunir cerca de cem representantes de empresas do Brasil. Na quarta-feira (29/03), outro evento, organizado pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível e promovido pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, também deveria acontecer na capital chinesa e contar com a participação dos mais de 200 empresários previstos na delegação. Até o fechamento desta matéria, no início da tarde deste domingo (26/03) em Pequim, a programação estava mantida.
Twitter/Lula – Foto de Ricardo Stuckert
Por orientações médicas, viagem oficial do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva à China foi adiada
Afinal, mesmo se pelo menos 20 acordos deveriam ser assinados pelos representantes políticos da delegação, essa viagem tinha antes de mais nada um objetivo econômico. A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial do Brasil, e o tamanho da delegação prevista na viagem prova que o momento é de “relançar esse relacionamento estratégico”, como frisou o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em um artigo publicado no sábado (25/03) no jornal chinês China Daily, pouco antes do anúncio do adiamento da chegada de Lula. Em seu texto, o chanceler menciona os “quatro anos de ausência”, em referência ao mandato de Jair Bolsonaro, quando o país manteve seus negócios com a China, mas a pandemia de covid-19, assim como algumas declarações dos ex-chefe de Estado, esfriaram um pouco as relações entre os dois gigantes.
Esta viagem “oferece oportunidade para que o setor privado brasileiro estabeleça interlocução com dirigentes empresariais chineses e identifique oportunidades de negócios e de investimentos”, informou a ApexBrasil, que participou da organização da programação. A agência, que promove as exportações e os investimentos do país, previu visitas técnicas e encontros bilaterais em Pequim, tendo como foco temas como sustentabilidade, bioeconomia, inovação, energias renováveis, e agronegócio.
Estão na lista empresários de 30 setores da economia (entre eles representantes de dez startups) e cada participante arcou com suas despesas de viagem. Muitos deles já estão em Pequim ou estavam a caminho quando a ausência de Lula foi confirmada.
Comércio de carne brasileira em destaque
Dos mais de 200 nomes previstos na delegação, pelo menos 60 representam frigoríficos. Cerca de 62% das exportações brasileiras de carne bovina no ano passado foram para o país asiático. Além disso, os chineses compram 44% das exportações brasileiras de carne suína em volume e cerca de 14% de frango.
Não à toa, nomes como BRF (BRFS3), maior exportadora global de frango, e a JBS (JBSS3), gigante mundial do setor, fazem parte da viagem e enviaram vários executivos a Pequim, entre eles os irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, da JBS. Também estão presentes representantes do setor algodoeiro, produtores de celulose e grandes nomes da construção civil.
Em 2022, a China importou mais de US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros, especialmente soja e minérios, e exportou quase US$ 60,7 bilhões para o mercado nacional. O volume comercializado, US$ 150,4 bilhões, cresceu 21 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004.
O produto brasileiro mais vendido para o mercado chinês no ano passado foi a soja, com 36% do total exportado, seguido pelo minério de ferro com 20% e o petróleo com 18%.