A inflação na Alemanha deve permanecer elevada por mais dois anos, disse neste sábado (24/12) uma conselheira sênior do governo alemão.
“A inflação também será um problema em 2024, e só depois disso talvez a veremos voltar a 2% [ao ano]”, disse Monika Schnitzer, presidente do Conselho Alemão de Especialistas em Economia, ao jornal Rheinische Post.
Schnitzer disse que a inflação permanecerá alta por causa dos chamados efeitos de segunda ordem, pois os produtores repassam custos mais altos aos consumidores e às empresas.
Ela também acusou algumas empresas de exagerar em seus aumentos de preços.
Seus comentários contrastam com um relatório do instituto Ifo, sediado em Munique, publicado na semana passada, que previa que a inflação cairia para 6,4% em 2023.
O Ifo também disse que a previsão de recessão na Alemanha no próximo ano seria mais branda do que se pensava anteriormente, com a economia retraindo apenas 0,1%, contra uma previsão anterior de contração de 0,3%.
Sem risco de espiral inflacionária
Na entrevista ao Rheinische Post, Schnitzer disse não estar preocupada com uma eventual espiral inflacionária devido às negociações salariais.
Nos principais setores industriais alemães, como o químico e o metalúrgico, os sindicatos concordaram com aumentos salariais abaixo da inflação, em troca de pagamentos únicos de compensação.
A inflação na Alemanha atingiu uma taxa anual recorde de 10,4% em outubro, de acordo com a agência oficial de estatísticas Destatis. Em novembro, a taxa recuou levemente, para 10%.
O aumento dos preços, que começou quando a economia se recuperava da pandemia do coronavírus, foi impulsionado pela invasão russa da Ucrânia.
Os preços da energia subiram mais da 50% em novembro em comparação com o mesmo mês do ano passado, acelerados pelo aumento dos preços do gás natural. Os preços dos alimentos subiram mais de 20% no mesmo período.
Excluindo alimentos e energia, a inflação anual de novembro teria sido em torno de 5%, segundo a Destatis.
Frank Hoermann/SvenSimon/picture alliance
Inflação anual na Alemanha chegou a 10,3% em outubro
Sobretaxa do preço de energia
Schnitzer pediu que uma sobretaxa temporária de solidariedade, apelidada “soli”, seja introduzida no próximo ano para financiar o teto no preço de energia, que procura reduzir o impacto do aumento das contas de eletricidade e de aquecimento.
“Uma ‘soli de energia’ faz sentido: reconhece que o país está ficando mais pobre e que os ombros fortes terão que carregar mais o peso do que os mais fracos”, disse Schnitzer.
A taxa temporária poderia trazer um adicional de 12 a 13 bilhões de euros em receita tributária, disse.
Com a expectativa de que os preços da energia sigam altos, Schnitzer também pediu ao governo do chanceler federal Olaf Scholz que prolongue a vida útil de três usinas nucleares por mais três anos.
“Do ponto de vista econômico, faria sentido encomendar rapidamente novas varetas de combustível [nuclear]. Isso nos daria mais segurança no próximo inverno”, disse.
Após relutância, Berlim concordou em prolongar a vida útil das últimas usinas nucleares até abril por causa da crise energética.
Elas estavam programadas para serem desativadas em alguns dias, como parte de uma política de eliminação progressiva da energia nuclear.
Aumento da idade de aposentadoria
Schnitzer também pediu que a idade de aposentadoria seja elevada para 69 anos, a partir dos atuais 66 anos, devido à falta de trabalhadores para substituir o número crescente de aposentados.
“As coisas não podem continuar assim com as aposentadorias”, disse ela ao Rheinische Post. “O Conselho de Especialistas em Economia propõe que, de cada ano de vida adicional, oito meses sejam gastos no trabalho e quatro meses na aposentadoria. Então chegaríamos à aposentadoria aos 68 anos em 2046 e à aposentadoria aos 69 anos em 2061”.
Schnitzer também pediu que o governo pare de permitir que trabalhadores se aposentem aos 63 anos se tiverem pago contribuições suficientes à Previdência Social.
A idade da aposentadoria na Alemanha já está programada para aumentar para 67 anos até 2031.