A Alemanha abriu um processo contra a Itália na Corte Internacional de Justiça (CIJ), alegando que o país continua permitindo que vítimas de crimes nazistas peçam indenização ao Estado alemão, mesmo após uma decisão anterior da Corte estabelecer que tais reivindicações violam o direito internacional.
Em 2012, o mais alto tribunal das Nações Unidas, sediado em Haia, decidiu que a Alemanha não poderia ser processada em tribunais estrangeiros por vítimas de crimes de guerra cometidos durante o regime nazista.
Em petição divulgada nesta sexta-feira (29/04) pela CIJ, a Alemanha argumentou que os tribunais nacionais na Itália violaram repetidamente a decisão de 2012 da Corte internacional.
Desde então, mais de 25 novos pedidos de indenização foram apresentados em tribunais italianos contra o Estado alemão, por danos decorrentes das atrocidades nazistas. Em muitos dos casos, as cortes italianas ordenaram que a Alemanha pagasse a indenização.
No novo processo aberto junto à CIJ, o Estado alemão também busca compensação financeira da Itália “por qualquer dano causado por violações do direito da Alemanha à imunidade soberana”.
Por que a Alemanha abriu o processo agora?
A questão mais premente para a Alemanha é uma decisão judicial italiana pendente sobre se deve forçar a venda de edifícios de propriedade alemã. As quatro propriedades em questão são edifícios em Roma que abrigam os escritórios locais do Instituto Arqueológico Alemão, o Instituto Histórico Alemão, o Instituto Goethe e a Escola Alemã de Roma.
A Alemanha argumenta em seu pedido que a “Itália violou e continua violando sua obrigação de respeitar a imunidade soberana da Alemanha”, ameaçando tomar os prédios para pagar indenizações solicitadas por vítimas de crimes nazistas.
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No novo processo aberto junto à CIJ, o Estado alemão também busca compensação financeira da Itália
Um tribunal italiano afirmou que decidirá em 25 de maio se os prédios deverão ser leiloados.
A Alemanha pediu à CIJ que tome medidas para suspender o leilão das propriedades enquanto o caso principal sobre as reivindicações da Segunda Guerra Mundial está sendo considerado.
Ainda não há audiências marcadas, mas espera-se que ocorram nas próximas semanas. Os processos da Corte Internacional de Justiça normalmente levam anos para serem julgados.
Atrocidades nazistas na Itália
A Alemanha e a Itália estão envolvidas há anos em uma disputa legal sobre reparações da Segunda Guerra Mundial.
Na decisão anterior da CIJ, em 2012, os juízes consideraram que o mais alto tribunal da Itália violou a soberania da Alemanha ao decidir em vários casos de compensação de crimes nazistas.
Um dos casos envolveu um homem que foi deportado para a Alemanha em 1944 e forçado a trabalhar como escravo em uma fábrica de munições.
Os outros casos diziam respeito a reclamações apresentadas pelas famílias de nove pessoas que estavam entre os mortos pelos militares alemães em Civitella, na Toscana, em 1944. O massacre matou 203 civis. O processo gerou vários outros pedidos de indenização.
A Alemanha argumenta que já pagou bilhões de euros em indenizações por atrocidades cometidas pelo regime nazista desde o fim da Segunda Guerra, participando de extensas reparações e tratados de paz com os países afetados.
A as decisões da CIJ são finais e juridicamente vinculativas.