O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que é urgente uma maior participação dos países do IBAS, grupo que reúne Índia, Brasil e África do Sul, no processo de paz entre israelenses e palestinos. Amorim deu a declaração após encontro dos chanceleres do IBAS com o ministro dos Assuntos Estrangeiros da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Riad Malki.
Segundo ele, a ideia do grupo contribuir nas negociações surgiu durante a visita do presidente da ANP, Mahmoud Abbas, ao Brasil em novembro do ano passado. “Mas [a iniciativa] se tornou mais urgente devido aos percalços no processo na Palestina”, afirmou Amorim ontem (15/4).
Leia também:
Opinião: Lula chega ao palco do Oriente Médio
O conflito no Oriente Médio pelos olhos de uma brasileira
Marco Aurélio: Brasil está apto a mediar paz no Oriente Médio
Lula encontra Abbas e anuncia arrecadação de fundos para criar Estado palestino
Entre esses “percalços”, ele citou a decisão israelense de liberar a construção de 1,6 mil moradias em Jerusalém Oriental, território que, para os palestinos, é considerado ocupado, e a “reedição de uma ordem militar” israelense “que vai tornar o dia a dia dos palestinos ainda mais difícil”.
Malki conversou com os ministros do IBAS sobre a ordem 1650 que, de acordo com ele, obriga todos os palestinos residentes na Cisjordânia a portarem uma permissão para estar no território, emitida pelo comando militar israelense, sob pena de deportação para um terceiro país.
“Todos nós, os 2,5 milhões de palestinos que vivem na Cisjordânia, estamos sob risco de deportação para um terceiro país no prazo de 72 horas, a não ser que tenhamos essa autorização”, afirmou Malki, ressaltando que ninguém tem tal autorização. “Todos somos candidatos à deportação e a sermos substituídos por colonos [israelenses]. Isso mostra que Israel não está interessado na paz”, acrescentou.
Amorim afirmou que, por esses fatores, “não tem havido evolução positiva” no processo de paz. “Tudo isso nos preocupa. Esse encontro [de chanceleres] é o começo de um maior engajamento dos países do IBAS no processo de paz no Oriente Médio”, destacou o ministro brasileiro.
De acordo com ele, os países do IBAS apóiam a formação de um Estado Palestino viável e com as fronteiras como eram anteriormente a 1967, quando Israel ocupou os territórios palestinos na Guerra dos Seis Dias, segundo o plano aprovado pela Liga Árabe em 2002, no Líbano. Além disso, Amorim afirmou que o IBAS condena a construção de assentamentos israelenses nas áreas consideradas ocupadas.
A questão dos assentamentos paralisou as negociações, que, no início do mês passado, estavam prestes a ser retomadas com mediação dos Estados Unidos. Para Amorim, o IBAS pode ajudar o chamado “Quarteto para o Oriente Médio” com novas ideias. O Quarteto é formado por EUA, Rússia, União Européia e ONU. “Temos também boas relações com Israel, e por isso acreditamos que podemos contribuir com ideias novas”, disse.
Malki acrescentou que os países do IBAS “têm que intervir” se quiserem que a paz ocorra, pressionando especialmente pelo congelamento dos assentamentos, para que as negociações possam recomeçar. “Eu sei como o Brasil está comprometido [com o tema]”, afirmou o chanceler palestino, citando a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez a Israel, Cisjordânia e Jordânia em março.
Comunicado
Em comunicado conjunto, os ministros do IBAS pedem ao governo israelense o congelamento dos assentamentos, incluindo as construções resultantes do “crescimento natural” de Jerusalém. O crescimento orgânico da cidade é usado por israelenses como justificativa para a autorização de novas obras na parte oriental.
Os chanceleres pedem também que Israel reduza as restrições à circulação de pessoas e bens na Cisjordânia e na Faixa de Gaza para evitar o agravamento da situação humanitária. Além disso, eles declararam ter “preocupações profundas” com a ordem militar 1650.
Os ministros manifestaram ainda apoio às negociações de paz também entre Israel, Líbano e Síria e uma maior participação da comunidade internacional no processo de paz na região, incluindo países em desenvolvimento que têm boas relações com todas as partes.
Siga o Opera Mundi no Twitter
NULL
NULL
NULL