A Anistia Internacional (AI) afirmou nesta quinta-feira (14/09) que as provas de que o Exército de Mianmar cometeu atos de limpeza étnica são irrefutáveis, após a fuga de quase 467 mil membros da minoria rohingya à vizinha Bangladesh.
Em comunicado, a ONG acusou as forças de segurança de serem responsáveis por mais de 80 incêndios em aldeias de rohingyas no estado de Rakhine, no oeste do país, identificados por satélite. Os militares também são acusados de disparar contra civis da minoria.
“Os dados são irrefutáveis: as forças de segurança de Mianmar estão ateando fogo no norte do estado de Rakhine em uma campanha com o objetivo de expulsar os rohingyas do país. É uma limpeza étnica”, disse Tirana Hassan, diretora de Resposta de Crise da AI.
“Se observa aqui um padrão claro e sistemático de abusos. As forças de segurança cercam uma aldeia, disparam contra as pessoas que fogem em pânico e depois incendeiam as casas até os alicerces. Em termos legais, são crimes contra a humanidade: ataques sistemáticos e expulsão forçada de civis”, completou a ONG.
Segundo testemunhas ouvidas pela AI em Bangladesh, os soldados de Mianmar dispararam contra aldeias da minoria em resposta a um ataque de militantes do Exército de Salvação Rohingya de Arakan (Arsa) contra vários postos policiais em Rakhine no fim de agosto.
Agência Efe
Manifestação contra a limpeza étnica realizada por imigrantes Rohingya em frente a embaixada de Mianmar da Coreia do Sul
“O Exército atacou às 11h. Começou a atirar contra casas e pessoas. O ataque durou uma hora. Quando terminou, vi meu amigo morto na estrada”, relatou um rohingya sobre um incidente ocorrido em Maungdaw.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que as autoridades de Mianmar suspendam as ações militares contra os rohingyas e alertou que a violência gerou uma catástrofe humanitária. Perguntado se o que está ocorrendo no país é uma “limpeza étnica”, Guterres avaliou que não há melhor forma de descrever a situação.
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A líder birmanesa Aung San Suu Kyi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1991, atribuiu as denúncias de limpeza étnica a uma campanha de desinformação e anunciou através de sua porta-voz, Zaw Htay, que não irá à Assembleia-Geral da ONU na próxima semana, em Nova York, que debaterá a situação dos rohingya em Mianmar.
O porta-voz, no entanto, disse que Suu Kyi fará um pronunciamento à nação na próxima terça-feira e também explicará a diplomatas e jornalistas o que está ocorrendo em Rakhine.
Segundo o porta-voz, a líder birmanesa não irá à Assembleia-Geral da ONU devido ao terrorismo do Arsa e dos conflitos “raciais e religiosos” no estado citado.
Povo Rohingya: uma minoria muçulmana discriminada há décadas
Os rohingya são um grupo étnico, maioritariamente muçulmano, que vive no estado de Rakhine em Mianmar, país em que 90% da população é budista. São mais de 1,1 milhão de rohingya vivndo neste estado. O estado de Rakhine é um dos mais pobres do país.
Desde 1982 que os rohingya não são reconhecidos como cidadãos pelo poder de Mianmar, que reconhece 135 etnias, sendo oficialmente considerados apátridas e tratados como “imigrantes ilegais”. Têm sofrido desde então dura repressão, acentuada no último período. Os rohigya tem acesso limitado a educação e saúde e possuem cotas limites de entrada em certas profissões e no serviço público do país.