Ao menos sete pessoas foram mortas em atos de violência política em todo o Brasil desde o dia 1º de outubro, uma semana antes do primeiro turno das eleições. O número foi extraído do Mapa da Violência de Opera Mundi, que contabiliza, até agora, 133 casos de agressões e intolerância.
O levantamento do mapa reúne casos com motivação política divulgados na imprensa regional e nacional. A tabulação e análise dos dados foi feita pelas geógrafas Ana Lígia Guerra e Janete Melo e pelos jornalistas Alceu Luís Castilho, Haroldo Ceravolo Sereza e Lucas Berti. Os números apresentados nesta reportagem compreendem casos registrados até 24 de outubro.
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Pontos vermelhos no mapa mostram local onde pessoas foram assassinadas por motivação política
José Carlos de Oliveira Mota, Paraná
O primeiro registro é do dia 3 de outubro, quando o cabeleireiro José Carlos de Oliveira Mota foi assassinado em Curitiba. A vítima, que era homossexual, foi encontrada com sinais de tortura dentro do armário do próprio apartamento, no centro da capital paranaense. Um casal suspeito de participar do crime foi preso, sendo que um dos membros da dupla teria gritado o nome do candidato Jair Bolsonaro enquanto intimidava o porteiro do prédio.
Moa do Katendê, Bahia
No dia 8, o capoeirista Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, foi assassinado com 12 facadas, na região de Engenheiro Velho de Brotas, em Salvador, Bahia, durante uma discussão sobre política. Mestre Moa, 63, era compositor e foi o autor da música 'Badauê', gravada por Caetano Veloso no disco 'Cinema Transcendental, de 1979, e pelo Ilê Ayê.
Segundo testemunhas, o acusado pelo assassinato gritou palavras de apoio à candidatura de Bolsonaro. Após ser questionado por Moa, que manifestou preferência pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos, atacou e matou o capoeirista. Na quarta-feira (24/10), a Justiça tornou Santana réu por homicídio duplamente qualificado, com motivo fútil e sem possibilidade de defesa da vítima.
Aluisio Sampaio, Pará
No dia 12 de outubro, o líder sem-terra Aluisio Sampaio, conhecido como Alenguer, foi baleado na cabeça na cidade de Castelo dos Sonhos, interior do Pará, na altura da BR-163. Membro do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar (Sintraf), Sampaio divulgou um vídeo, em 2017, em que acusava sindicalistas da região de ameaçá-lo de morte. Em um depoimento anônimo, um posseiro informou que havia divergências quanto à escolha do candidato presidencial.
Davi Mulato Gavião, Maranhão
No mesmo dia, o indígena Davi Mulato Gavião foi encontrado morto na cidade de Amarante do Maranhão, próxima à capital São Luís, após levar quatro tiros. vítima apresentava distúrbios mentais e, segundo o Observatório Socioambiental, que relatou o caso, houve um aumento de episódios de violência contra indígenas durante o processo eleitoral: os quase 100 episódios, de acordo com a organização, são atribuídos a apoiadores de Bolsonaro.
Erivelton Tenharim, Mato Grosso
Outra morte de líder indígena foi noticiada no dia 16 de outubro, em Colniza, região noroeste do Mato Grosso. Erivelton Tenharim, foi assassinado a tiros durante um suposto confronto com servidores de uma base da Frente de Proteção Etnoambiental Madeirinha-Juruena da Funai. O órgão investiga as circunstâncias do ocorrido, mas, segundo o site Amazônia Real, os indígenas afirmam que não estavam armados quando foram ao local. Um colega de Erivelton, também indígena, foi baleado.
Travesti não identificada, São Paulo
Já no largo do Arouche, no centro de São Paulo, uma travesti, que não foi identificada, foi assassinada na madrugada do dia 16 de outubro, a facadas, em frente a um bar. Uma testemunha disse ao portal G1 que os responsáveis pelo ataque gritaram o nome de Bolsonaro antes e depois do crime.
Laysa Fortuna, Sergipe
Crime semelhante foi registrado dois dias depois, quando a transexual Laysa Fortuna, de 25 anos, levou uma facada no tórax, no centro de Aracaju, Sergipe. A jovem foi levada ao Hospital de Urgência da capital, mas não resistiu aos ferimentos. Uma amiga da vítima, que a socorreu após o crime, disse que apoiadores de Bolsonaro foram responsáveis pelo ataque.
Além destes casos, a polícia também registrou o episódio de um cachorro que que morreu após ser baleado por um eleitor de Bolsonaro, durante uma carreata em apoio ao candidato, no dia 30 de setembro, na cidade de Muniz Ferreira, na Bahia. Segundo testemunhas, o autor dos disparos, que não foi identificado, desceu de um veículo e atirou. Em um vídeo postado nas redes sociais , a dona do animal disse que o cachorro era dócil e não avançou contra o agressor.
Ameaças
As sete mortes contabilizadas até aqui refletem o outro dado preocupante, também agrupado no Mapa da Violência. Só a partir do mês de outubro, foram identificados 42 casos de lesão corporal, sendo quatro contra jornalistas, 12 episódios de homofobia e sete, de transfobia. Além disso, há episódios de pedras arremessadas durante manifestações e tentativas de atropelamento.
Já em relação a casos de ameaça, foram registrados 102 relatos. Quando analisados os episódios em que houve apenas agressão verbal, há um total de 120 registros.
Em parceria com o Observatório do Autoritarismo e