Após a consternação e a tristeza com a eleição do direitista Sebastián Piñera para a presidência do Chile na votação de ontem (17), a raiva começou a dominar os militantes da Concertação, coalizão de centro-esquerda derrotada pela primeira vez desde o retorno à democracia no Chile, em 1990. Jovens do Partido Democrata Cristão ocuparam hoje (18) a sede do partido em Santiago para exigir a renúncia de seus dirigentes, assim como da cúpula do PS (Partido Socialista). Eles consideram que os líderes são responsáveis pela derrota do candidato governista Eduardo Frei. Com 99,7% das urnas apuradas, Piñera lidera com 51,6% e Frei tem 48,39%.
EFE
A presidente chilena, Michele Bachelet, recebe o recém-eleito Sebastián Piñera, em Santiago
“Seguiremos com ocupação até que Juan Carlos Latorre venha aqui, assuma seus erros e coloque o cargo à disposição do partido”, afirmou Héctor Gárate, líder da juventude democrata-cristã, em referência ao chefe do partido. Os jovens socialistas pensam em adotar a mesma política para exigir a saída de Camilo Escalona, o presidente do PS. “É com este tipo de acontecimento que nascerá a nova Concertação”, opinou Patricio Mery, da juventude socialista.
“Hoje, na sede do partido democrata-cristão, está surgindo o novo progressismo, seremos a oposição a Piñera. Temos que trabalhar para recuperar a confiança do povo, que não votou a favor da direita, mas contra a Concertação, e isso é muito grave”, acrescentou Mery.
Os líderes das cúpulas da coalizão iniciaram uma auto-crítica, mas ainda excluem abandonar seus postos. “Foi uma derrota da Concertação”, reconheceu Latorre. No entanto, ele se disse “surpreso” pela reação dos jovens militantes, considerando que sair não é a melhor decisão nos momentos difíceis.
Outros descontentes
Os jovens não são os únicos que manifestaram seu desagrado com os líderes dos partidos. A vice-presidente do PS, Isabel Allende, filha do presidente Salvador Allende, morto no golpe de Estado de 11 de setembro 1973, também é a favor da saída de Camilo Escalona. Segundo ela, os presidentes de todos os partidos da Concertação tinham que renunciar após o resultado do primeiro turno, que deixou Eduardo Frei na segunda posição, com 29% dos votos, contra 44% de Piñera. “Foi um sinal muito claro do descontentamento das pessoas”, disse a deputada. Ela considerou também excessivo o apoio dado pela presidente Michelle Bachelet ao presidente do PS.
A renúncia das cúpulas de partidos foram uma exigência também de Marco Enríquez-Ominami, o dissidente socialista derrotado no primeiro turno. Ele havia condicionado seu apoio a Frei no segundo turno a uma saída geral dos presidentes dos partidos da Concertação, opção que foi rejeitada com veemência.
“A partir de hoje, os militantes vão começar a exigir algumas cabeças”, analisou José Bengoa, professor na Universidade Academia de Humanismo Cristão de Santiago, em entrevista ao Opera Mundi por telefone. Segundo Bengoa, “o mais provável é uma explosão da Concertação, que pode deixar a esquerda muito fraca por um tempo”.
Os líderes do PPD (Partido Pela Democracia) e do PRSD (Partido Radical Social Democrata), duas formações menores dentro da Concertação, já renunciaram no intervalo entre o primeiro e o segundo turno.
“Agora é a hora de medir nossas forças reais na sociedade”, afirmou um assessor de Bachelet, pedindo anonimato. “Seguimos controlando a metade do Congresso, do eleitorado e das prefeituras. Agora vai começar um momento de recomposição das forças políticas”, concluiu.
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