Atualizada às 19h09
Após a prisão do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, na última semana, a oposição venezuelana voltou a se dividir quanto aos seus próximos passos. Ao mesmo tempo em que a coalizão MUD (Mesa de Unidade Democrática) optou por agendar primárias para as eleições parlamentares do final do ano, em vez de convocar novos protestos, como os realizados em 2014, o manifesto “acordo para a transição”, que defende a saída do presidente Nicolás Maduro do poder e motivou a detenção de Ledezma, ganhou mais adeptos.
Nesta segunda (23/02), a Copei (Partido Social Cristão) manifestou apoio ao manifesto impulsionado pelos líderes do movimento “A Saída“. “Como rebeldia cívica, todo o Copei assina o acordo para transição”, disse o líder do partido Roberto Enríquez.
Agência Efe
Ato realizado na última sexta-feira (20/02) para pedir libertação de Ledezma
No dia 20 de fevereiro, o Ministério Público decidiu que Ledezma responderá em privação de liberdade pelas acusações de organizar planos conspiratórios e por associação com o crime. Da prisão, o líder opositor mandou hoje a seguinte mensagem, de acordo com a imprensa venezuelana: “eu só apoiei vias constitucionais. Chamo a MUD para discutir a renúncia [do presidente] e outras vias constitucionais para adiantar o fim de sua gestão presidencial”.
Em carta divulgada pelo jornal El Nacional nesta segunda, Ledezma diz ser totalmente contra um “golpe militarista”, defende a realização de manifestações contra o governo e pede união à MUD: “não permitamos que o regime nos divida”.
Maria Corina Machado, Mitsy Capriles, esposa de Ledezma, e Lilian Tintori, esposa de López, durante anúncio da Copei
Um dia após a detenção de Ledezma, a coalizão anunciou a convocação de eleições primárias, em 3 de maio, para escolher os candidatos que disputarão as eleições parlamentares no segundo semestre deste ano.
A estratégia adotada pela coalizão oposicionista é aproveitar o descontentamento gerado entre os venezuelanos pela crise econômica que o país atravessa — agravada pela baixa mundial do preço do petróleo — para acumular força política e conquistar a maioria das caideras no Parlamento.
Neste domingo, em seu Twitter, o presidente Nicolás Maduro criticou a oposição do país por querer impunidade “aos políticos que tomam atalhos violentos e golpistas” para obter o poder e chamou de dupla moral o fato de a direita participar de eleições e ao mesmo tempo planejar golpes de Estado.
Pretende la derecha la impunidad de los”políticos”que toman atajos violentos y golpistas,amparados en nuestras libertades constitucionales..
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) 22 fevereiro 2015
Unasul
O secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, anunciou que na próxima semana será enviada a Caracas uma comissão integrada por chanceleres de Brasil, Colômbia e Equador para discutir a situação da Venezuela. No ano passado, em meio à crise política desencadeada pelos protestos no país, uma missão semelhante foi ao país para mediar um diálogo entre governo e oposição.
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Em entrevista ao jornal colombiano El Tiempo neste domingo, Samper disse que a crise atual pode “comprometer” a democracia na Venezuela. “Para mim, é claro que o pano de fundo desta crise é a situação econômica que pode afetar e comprometer a estabilidade da Venezuela”, afirmou.
Ele ressaltou que a crise “não foi inventada pelo presidente Maduro”. O secretário-geral da Unasul disse ainda que ela se deve a “ingerências internacionais, falta de diálogo político interno e a uma situação social e econômica resultante de fatores que há vários anos eram imprevisíveis”, disse em referência à queda no valor do petróleo.
Prefeitura de Caracas
De acordo com a diretora-geral da prefeitura de Caracas, Helen Fernández, “não há vazio de poder”. Ainda esta semana será nomeado um encarregado para a Prefeitura e o trabalho iniciado por Ledezma “não vai parar”.
“Hoje Antonio Ledezma segue sendo nosso prefeito, estamos absolutamente preparados para continuar o trabalho social, a Prefeitura não para”, disse à Unión Radio.