Há 27 anos no poder, o presidente de Burkina Fasso, Blaise Compaoré, se recusou nesta sexta-feira (31/10) a renunciar ao cargo e cumprir as exigências dos manifestantes, que tomaram ontem as ruas da capital Ougadougou deflagrando protestos violentos.
Por enquanto, o líder anunciou que vai continuar no poder durante o “período de transição” em 2015, iniciado após a dissolução do Parlamento. Em pronunciamento à nação, Compaoré se comprometeu a ceder o comando do país ao presidente que for eleito democraticamente.
Agência Efe
Manifestantes tomaram as ruas e prédios públicos para protestar contra medida que previa reeleição de presidente, no poder desde 1987
Ontem, o presidente havia declarado estado de sítio no país — já revogado hoje — para conter a onda de fortes protestos iniciada para rechaçar o desejo de Compaoré de prolongar mais uma vez seu mandato, que teve início em 1987. A manifestação popular foi feita em resposta à uma manobra legislativa, na qual os parlamentares pretendiam votar uma emenda constitucional que concederia o quinto mandato a Compaoré.
Em meio ao conflito, pelo menos três manifestantes foram mortos a tiros pela polícia, sendo que inúmeros foram feridos pelas forças de segurança.
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Nas ruas, a população que pôs fogo na sede do Parlamento gritava “27 anos é suficiente”, em alusão ao tempo em que Compaoré está no poder. O atual presidente assumiu o cargo em 1987, quando protagonizou um golpe de Estado que destituiu seu antecessor, Thomas Sankara.
Oposição
“Estou disponível para discutir com todos os partidos”, disse o presidente [na foto, à direita], em pronunciamento na televisão e no rádio, encerrando especulações sobre onde estaria e se permaneceria ou não no cargo.
O chefe das Forças Armadas, general Honore Traore, havia anunciado ontem que o Executivo (governo) e o Legislativo (parlamento) haviam sido destituídos, além de ter imposto um toque de recolher em todo o território nacional. No lugar, seria nomeado um novo “governo de inclusão”, cujo comando “de transição” incluirá representantes de todos os lados da cena política e trabalhará para convocar eleições no período de 12 meses.
Após a declaração do presidente dizendo que permanece no comando em 2015, líderes da oposição já vieram a público para renovar os pedidos de renúncia. Uma declaração do opositor Zephirin Diabre também convoca a população a continuar nas ruas e ocupar prédios públicos.
Outro expoente da oposição, Emile Pargui Pare, do Movimento das Pessoas para o Progresso, afirmou que os protestos de ontem eram a “Primavera negra de Burkina Fasso”, fazendo referência ao processo que ficou conhecido como Primavera Árabe.