Novamente eleito presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos fez do segundo turno das eleições um referendo sobre a continuidade do processo de paz com as guerrilhas. Em seu discurso da vitória, após derrotar o “uribista” e opositor aos Diálogos, Óscar Iván Zuluaga, Santos destacou a necessidade do fim do cinquentenário conflito armado colombiano. No entanto, apesar de a continuidade das conversas com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) estar garantida, ainda há uma parte do caminho a ser percorrida.
Efe
Um dos desafios para Santos nos Diálogos será desenvolver um programa de inclusão que ofereça alternativas de emprego no setor rural
O retrospecto recente é positivo. Os Diálogos de Paz, que acontecem neste momento em Havana, começaram em setembro de 2012, e mais da metade da agenda estabelecida já foi concluída. Somado a isso, poucos dias antes do segundo turno, Santos anunciou que iniciará um diálogo com outro grupo guerrilheiro colombiano: o ELN (Exército de Liberação Nacional).
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Segundo Carlo Nasi, professor de Ciências Politicas da Universidade de los Andes, o atual momento das FARC propiciou a busca pela paz. Depois do forte militarismo dos governos de Álvaro Uribe, a força da guerrilha se reduziu pela metade, o que não deixou muitas opções a não ser um acordo pacífico. Também, ressalta o especialista, o fato de existir uma agenda reduzida e realista, sem a imposição de muitas pré-condições, ajudou na busca de consenso.
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Além disso, sublinha Nasi, a presença de negociadores membros das Forças Armadas e da Policia colombianas na mesa de negociação, fez com que essas instituições se sentissem incluídas no processo e não demonstrassem resistência.
Desafios pela frente
Porém, os maiores desafios ainda estão por vir. Assim como nos outros processos de desmobilização de guerrilheiros que houve na Colômbia, o entrave foi a reintegração deles à sociedade. Atualmente, segundo a Fundación Paz y Reconciliación, se estima que o ELN possua cerca de 2.500 combatentes em ação, enquanto as FARC, 11 mil.
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Para Nasi, um grande desafio será desenvolver um programa de inclusão que ofereça alternativas de emprego no setor rural. Ele teme que, caso isso não seja feito, “outros grupos ilegais” surjam “para substituir as FARC nas regiões onde tiveram presença por décadas”.
O prazo é outro elemento de pressão. Santos prometeu finalizar as conversas até o final deste ano. Até lá, ainda faltam dois pontos a serem discutidos: justiça e o desarmamento dos integrantes guerrilheiros. Sobre o primeiro, Nasi existe um grande dilema, pois não acredita “que os grandes líderes das FARC acabem em uma prisão ao final de uma negociação de paz”. Mas por outro lado, essa é uma exigência de alguns defensores de direitos humanos e também de “uribistas” – a segunda maior força política colombiana.
Já o segundo ponto é delicado para as FARC, ressalta o professor, pois a guerrilha não aceitará facilmente entregar suas armas frente ao temor de um possível massacre de grupos rivais, como aconteceu com a União Patriótica, partido político criado pelas FARC nos anos 80.