A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pediu que o mandatário Alberto Fernández reformule seu governo. Em carta aberta divulgada nesta quinta-feira (16/09), a vice fez críticas à gestão do atual presidente após o resultado favorável à direita nas primárias legislativas do país, mas prometeu não fazer oposição e disse ter confiança nas decisões do Executivo.
“Fui presidenta por dois mandatos consecutivos. […] Sei que governar não é fácil, e a Argentina menos ainda. Até tive um vice-presidente declaradamente opositor a nosso governo. Os argentinos e argentinas podem dormir tranquilos, isso nunca vai acontecer comigo. […] Apenas peço ao presidente que honre a vontade do povo argentino”, disse.
No documento, Kirchner ainda afirma que confia “sinceramente que, com a mesma força e convicção com que enfrentou a pandemia, o presidente não apenas relançará seu governo, mas se reunirá com seu ministro da Economia para examinar os números do orçamento”.
O documento divulgado pela peronista vem em meio a uma crise política iniciada após as eleições primárias, organizadas para escolher candidatos das diferentes alianças políticas para o pleito de 14 de novembro, quando serão renovados quase metade da Câmara dos Deputados (127 de 257 assentos) e um terço do Senado (24 de 72), nas quais as forças governistas tiveram uma desempenho negativo.
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Ataul vice-presidente governou país argentino por dois mandatos
“Sofremos uma derrota sem precedentes”, afirmou Cristina, que chamou o resultado de “catástrofe política”. “Sempre alertei ao presidente sobre aquilo que para mim constituía uma delicada situação social e que se traduzia, entre outras coisas, em atraso salarial, descontrole de preços e falta de trabalho. […] Também assinalei que acreditava que se estava levando a cabo uma política de ajuste fiscal equivocada […] e que, indubitavelmente, isso ia ter consequências eleitorais”, diz a carta da vice-presidente.
Sobre os membros do gabinete de Fernández, a vice-presidente avalia que “precisamos que as pessoas que ocupam essas cadeiras defendam definitivamente os interesses do povo”.
Após as eleições primárias, o presidente admitiu que o governo deve escutar a “mensagem das urnas” e “atuar com toda a responsabilidade”.
“Eu ouvi meu povo. A arrogância e a prepotência não se aninham em mim. A gestão do governo continuará se desenvolvendo do modo que que considerar conveniente. Para isso eu fui eleito”, escreveu. Em outra mensagem, o presidente ressaltou que “não é tempo de levantar disputas que nos desviem do caminho”.
Um comunicado da presidência argentina informou que “entre hoje e amanhã” Fernández deve promover mudanças em seu gabinete, com a saída de seu chefe de Gabinete e outros ministros.