Terça-feira, 20 de maio de 2025
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Atualizada às 20h23

A situação política na Argentina passou a uma nova fase de tensão nesta quarta-feira (09/09), quando a greve dos policiais por aumento salarial, iniciada na segunda-feira (07/07), resolveu realizar uma manifestação em volta da Quinta de Olivos, residência oficial do presidente Alberto Fernández – a Casa Rosada é o local de trabalho.

ATUALIZAÇÃO: Fernández fez um pronunciamento na noite desta quarta, em que afirmou que não aceitaria esse tipo de manifestação, e anunciou um remanejamento de recursos da cidade de Buenos Aires para a província de mesmo nome a fim de dar um aumento aos oficiais. Clique aqui para ler.

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Segundo a emissora TN, há protestos de policiais em outras regiões da província de Buenos Aires, como em La Matanza.

A greve é fortemente apoiada pelo partido PRO (Proposta Republicana), principal legenda opositora, liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri. Por outro lado, diversas outras organizações politicas e sindicais, de direita e esquerda, rechaçaram a atitude dos policiais e defenderam a democracia no país.

Inclusive, o prefeito da capital Buenos Aires, Horacio Larreta, do partido de Macri, disse ser inadmissível a presença dos policiais em Olivos. “Não é a forma, nem o lugar. É inadmissível a presença de efetivos da polícia da província de Buenos Aires na Quinta Presidencial de Olivos. A reclamação salarial deve ser canalizada no âmbito a que corresponde. O diálogo é o caminho”, disse.

Pelo Twitter, Fernández disse que a situação se resolve com paz e sensatez. “Agradeço todas as mostras de preocupação e afeto que recebi. Devemos confrontar os problemas e resolvê-los em paz e com sensatez. Àqueles que querem vir me acompanhar, os abraço e peço que não esqueçam que estamos em uma pandemia. Não potenciemos o risco”, escreveu.

A afirmação de Fernández veio depois de líderes sindicais iniciarem uma mobilização em defesa da democracia no país. Um deles foi Juan Grabois, diretor da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP), que havia iniciado a organização de uma marcha a Olivos.

“Por pedido expresso das autoridades máximas, suspendemos a convocatória de hoje às 20h. Esperamos que as armas e os veículos do governo constitucional argentino não sejam usadas para desafiar a democracia”, escreveu Grabois.

Primeiro ataque aconteceu na madrugada, com coquetel molotov atirado contra residência; governo de Buenos Aires já aceitou reivindicações de oficiais

Casa Rosada

Fernández, em evento no começo do mês: policiais cercaram Quinta de Olivos

Golpismo?

A ação desta quarta levanta temores de golpismo, se considerados três fatores primordiais.

O primeiro é que, assim como no Brasil, a administração das polícias não é de responsabilidade do governo federal argentino e sim dos governos estaduais. Aliás, esta greve envolve apenas os policiais da Província de Buenos Aires, que respondem ao governador Axel Kicillof (kirchnerista).

O segundo ponto é que líderes da greve haviam admitido, na tarde de terça-feira (08/09), que o governador Kicillof havia aceitado a parte mais importante das reivindicações e prometido um aumento escalonado a partir de outubro, mas disseram que não o aceitariam, o que levou à reação no dia seguinte, contra uma instância que não está diretamente ligada à polícia.

Mas o terceiro aspecto, mais complexo, está no passado recente. A greve dos policiais de Buenos Aires traz a recordação de um episódio recente na América Latina, que terminou com uma democracia: o golpe de Estado de novembro de 2019 na Bolívia, que começou com uma greve de policiais e terminou com os militares obrigando o presidente Evo Morales a renunciar, e impondo a senadora Jeanine Áñez no poder, para um suposto mandato tampão, mas que se mantém até hoje, depois de adiar as novas eleições três vezes.

Em fevereiro deste ano, também houve um caso semelhante, com uma greve de policiais realizada no Ceará, que contou com o apoio do governo de Jair Bolsonaro e terminou com um atentado contra o senador Cid Gomes.

Ademais, a manifestação desta quarta foi precedida de um ataque pela madrugada à mesma residência presidencial de Fernández, por um sujeito que atirou uma bomba molotov contra um dos muros. O autor do atentado já está preso e se investiga seus vínculos políticos e sua possível ligação com a greve dos policiais.

Vale lembrar que, há duas semanas, o ex-presidente argentino Eduardo Duhalde (peronista de direita) deu uma entrevista em um programa de televisão aludindo à possibilidade de um golpe militar contra o presidente Alberto Fernández.

(*) Com reportagem de Victor Farinelli, da Revista Fórum