O vice-ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, afirmou nesta terça-feira (17/04) que a empresa espanhola Repsol oculta o real valor de sua filial petrolífera YPF S.A., cujas ações devem ser expropriadas se o projeto de lei enviado pela presidente Cristina Kirchner for aprovado no Congresso.
Em discurso no plenário de Comissões do Senado, Kicillof respondeu ao recente pedido de indenização espanhol – de mais dee 10 bilhões de dólares – que a comissão que interveio provisoriamente na empresa irá revisar e que o valor pago será estabelecido pelo Tribunal de Avaliação de seu país.
“Estamos em condições de dizer que os números que falaram acerca do valor da companhia, de maneira imprudente, vão ser revisados à medida que formos conhecendo os caminhos e informações secretas que a empresa manejava”.
Em tom veemente e consoante com as declarações realizadas nesta segunda-feira (16/04) por Cristina Kirchner durante o anúncio do envio do projeto de lei ao Congresso, o vice-ministro defendeu a expropriação de 51% das ações da YPF S.A., na qual a Repsol possui 57,4% de participação acionária.
“Ninguém pode dizer que estão tirando [da Espanha] uma coisa que era sua”, alegou, em defesa dos recursos petroleiros do país administrados pela Repsol, que segundo Kicillof, “teve benefícios extraordinariamente grandes” decorrentes da atividade exploratória argentina nos últimos anos.
Ironizando as acusações de insegurança jurídica na Argentina, o vice-ministro afirmou que não espera que os empresários espanhóis entendam as motivações da expropriação acionária, já que estes “pensam na expansão de um grupo” que “enxugou até a última gota” os dividendos obtidos com a YPF.
Para ele, o governo argentino “não pode se dar ao luxo” de esperar que a Repsol “se sente para discutir o que será feito” com os recursos estratégicos argentinos.
O ministro de Planejamento, Julio De Vido, designado – por meio de uma medida provisória nesta segunda-feira (16/04) – como interventor estatal provisório da empresa petrolífera, afirmou por sua vez que o valor da compensação monetária ainda terá que ser conversado com o grupo espanhol.
Segundo ele, os danos ambientais e de infra-estrutura originados quando o grupo espanhol dirigia a empresa em território argentino serão levados em consideração no momento da cotização dos ativos expropriados. “Acolheremos o decidido pela lei, que estabelecerá um valor”, afirmou, complementado que a infra-estrutura de produção da empresa se encontra em situação de “desastre”. “Isso, neste momento da história, tem seu custo e [os espanhóis] vão ter que pagá-lo”.
Escassez de combustível
Antes do debate parlamentar, o ex-chefe da Casa Civil e atual senador do partido governista FPV (Frente para a Vitória), Aníbal Fernández, denunciou os empresários espanhóis por “nunca querer crescer com a Argentina” e de “desmantelar” a petrolífera argentina, vendida em 1998 pelo ex-presidente Carlos Menem.
Atribuindo a queda “exorbitante” de reservas e de produção de petróleo e gás à falta de investimentos da Repsol no país, Fernández afirmou que ameaças e insultos de jornalistas espanhóis “demonstram uma falta de respeito grave à soberania” da Argentina. “[A Repsol] tirou da YPF tudo o que pode e nós ainda temos que suportar esta falta de respeito com a presidente”, disse.
Para passar pelo Senado, o projeto de lei que prevê a expropriação de 51% das ações da YPF S.A. necessita aprovação de dois terços dos legisladores. Estima-se que não haja dificuldades para sua sanção, já que o kirchnerismo conta com maioria em ambas as câmaras do Congresso.
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