Com as universidades à beira do colapso, estudantes saem às ruas da Argentina nesta terça-feira (23/04) em defesa da educação pública e em repúdio contra os cortes orçamentários nas instituições educacionais, contemplados no chamado “Plano Motosserra” – medida que consiste em uma série de ações do governo ultraliberal de Javier Milei que visam cortar as despesas do Estado.
Além da comunidade estudantil e docente de instituições públicas, unem-se também as privadas como a Universidade Argentina de la Empresa (UADE), Torcuato Di Tella (UTDT) e San Andrés (UdeSA). A marcha também conta com a participação de partidos políticos, movimentos sociais, sindicatos, defensores dos direitos humanos, e da própria Confederação Geral do Trabalho (CGT).
Com o slogan “Em defesa da universidade pública gratuita”, os atos são realizados em âmbito nacional, tendo como ponto principal a capital argentina de Buenos Aires, de onde uma marcha começará às 15h30 em frente ao Congresso e terminará na Plaza de Mayo.
À imprensa local, o vice-presidente do Conselho Nacional Interuniversitário (CIN), Oscar Alpa, explicou que os recursos que são usados na cobertura de taxas de manutenção dos centros de estudo “não chegam a 50% do que é necessário”, considerando o aumento da inflação no país. Outra crítica também envolve a demora no anúncio do sistema de bolsas destinado aos estudantes que se encontram em situação de vulnerabilidade social.
Conferencia de prensa del @CINoficial, el Frente Sindical de Universidades Nacionales y la @laFUA para informar sobre la organización de la marcha universitaria federal prevista para el martes 23 de abril.https://t.co/aEMJYiHPr2
— CIN (@CINoficial) April 23, 2024
Já o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores Universitários (Conadu), Carlos de Feo, comentou que o principal motivo da mobilização é a defesa pela universidade pública gratuita e, o segundo, pela questão orçamentária. Segundo o líder sindical, os cortes feitos pela gestão Milei afetam um total de 57 instituições em toda a Argentina, nas quais empregam 250 mil pessoas, entre docentes e funcionários, e educam 2,5 milhões de estudantes.
Em rede social, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner manifestou seu apoio ao protesto em defesa da educação pública.
“Nossos registros na Universidade Nacional de La Plata e de nós dois no verão de 75′-76′, ainda estudantes. Quem poderia imaginar que 27 anos depois estaríamos presidindo uma Argentina em que criamos e inauguramos 16 novas universidades públicas, conseguindo, pela primeira vez, que todas as províncias tenham uma universidade pública?”, diz a publicação, com imagens das fichas estudantis dela e de Néstor Kirchner.
Cristina acrescenta que as conquistas foram possíveis porque conseguiram inverter a “relação entre os recursos destinados à educação e o pagamento da dívida externa”.
“Em 2003: 3% do PIB para a educação e 5% para a dívida externa. Em 2015, no final dos três períodos de governo: 6,3% do PIB para a educação e 1,5% para a dívida pública. Não foi mágica. Educação pública para igualdade de oportunidades”, conclui.
Nuestras fichas de la Universidad Nacional de La Plata y nosotros dos en el verano del 75’-76’, todavía estudiantes. ¿Quién podía imaginar que 27 años después íbamos a presidir una Argentina en la cual creamos e inauguramos 16 nuevas universidades públicas logrando que, por… pic.twitter.com/AJWpgGjhrB
— Cristina Kirchner (@CFKArgentina) April 23, 2024
Cortes nas universidades
Nos últimos dias, Javier Milei anunciou um aumento de 140% nas despesas operacionais. Embora o governo tenha apresentado a medida como resultado de um “consenso”, a CIN negou ter chegado a um acordo e ratificou a marcha nacional nesta terça-feira.
O Ministério do Capital Humano afirmou, por meio de nota, que “a política de congelamento orçamentário da gestão anterior” foi concluída, ao mesmo tempo em que culpou o mandatário antecessor, Alberto Fernández, pela crise universitária.
— Ministerio de Capital Humano (@MindeCapitalH) April 22, 2024
As universidades argentinas, como a tradicional Universidade de Buenos Aires, denunciam que estão passando por uma situação crítica devido ao congelamento de verbas e ao aumento das despesas operacionais. Para 2024, o governo argentino destinou os mesmos recursos usados pela gestão anterior, mas não levou em conta o aumento inflacionário dos últimos três meses, de dezembro passado a março deste ano, que já alcançou a marca dos 90%.
(*) Com Telesur e Página 12