O fechamento dos aeroportos europeus desde a quinta-feira passada causou, além de caos, uma corrida a transportes alternativos e, entre eles, a carona. Na Europa, esta prática é considerada segura – não apenas entre jovens – e há diversos websites que conectam quem pede e quem oferece uma vaga no carro para viajar. Segundo os administradores de páginas do gênero, a audiência subiu vertiginosamente nos últimos dias com pedidos e ofertas de ajuda.
Para quem decidiu fazer algum dinheiro transportando passageiros pela Europa, os negócios atenderam à demanda. Foi em um desses sites – o português Deboleia.com – que o aeroviário Paulo Ferreira, de 24 anos, funcionário da irlandesa Ryanair, encontrou o anúncio d o controlador de estoques Mauro Honrado, de 30 anos, que procurava companhia até a Euro Disney, em Paris. De lá, Ferreira ainda seguirá para Bruxelas. Para os dois, é a estreia em caronas internacionais.
“É um carro grande, confortável. Já encontrei uma pessoa pela internet que ficou de vir até aqui para combinarmos. Se ela concordar e eu achar mais uma, vou já”, diz Honrado, procurando, meio sem jeito, alguém nas filas do aeroporto de Lisboa que se disponha a dividir o gasto e o tempo da viagem.
Vítor Sorano
Mauro Honrado (esq.) e Paulo Ferreira no aeroporto de Lisboa: em busca de mais uma pessoa para dividir gastos
Nas contas deles, serão 200 euros e 16 horas de estrada por trecho – contra 25 euros e duas horas que custariam o voo cancelado pela nuvem de cinzas expelida pelo vulcão islandês Eyjafjallajökull.
Parte do espaço aéreo europeu ainda está fechada. No aeroporto de Lisboa, funcionários da companhia aérea portuguesa TAP distribuíam lanchinhos e garrafas de água na longa fila do guichê de partida. “É por causa dos problemas”, disse um deles. Segundo a organização europeia de segurança aérea, Eurocontrol, está havendo melhora das condições e cerca de 30% dos voos funcionaram normalmente nesta segunda-feira (19/4). A Iata (Associação Internacional de Companhias Aéreas), que critica o modo como os governos e a Comissão Europeia vêm atuando, diz que as perdas das empresas são de pelo menos 200 milhões de dólares por dia.
Vítor Sorano
Painel do aeroporto de Lisboa, onde 147 voos foram cancelados nesta segunda-feira
O site italiano Roadsharing.com relatou um aumento de 700% nas visitas desde quinta-feira, com busca por trajetos mais longos e entre diferentes países, o que não costuma ocorrer. Na França, o fenômeno carona foi ampliado pela greve dos ferroviários, que começou no dia 6 de abril e terminou nesta segunda-feira. O francês Covoiturage.fr disse que o número de acessos começou a crescer na tarde de quinta-feira e duplicou no sábado: de uma média de 30 mil diários, passou para 60 mil. O croata Gorivo.com mencionou aumento de 30% na última semana. O Deboleia.com teve 124 visitas no domingo, o que é considerado atípico. O administrador da página portuguesa, Tozé Constantino, frisa que vários citavam problemas decorrentes da nuvem de fumaça como motivo do anúncio.
Folga inesperada
O engenheiro mecânico Miguel Dantas, 32 anos, deveria estar ontem no Porto, norte de Portugal, trabalhando como em um dia de semana comum, mas teve tempo de saborear um almoço tranquilo em um pequeno restaurante no sul da França. Impedido de sair do país de avião, ele teve de se deslocar de outra maneira. Encontrou outros cinco portugueses e está dividindo os custos da viagem desde Milão, na Itália – feita em trem, carro alugado e táxi. “Nunca tinha pedido carona”, contou ao Opera Mundi.
Para outro português, Alvaro Graça, o fechamento dos aeroportos foi ainda mais positivo. Por 500 euros por pessoa, ele e um amigo estão transportando passageiros entre Lisboa e Estocolmo, na Suécia, passando por diversas cidades europeias ao longo de 3,6 mil quilômetros: “Copenhague, Hamburgo, Bruxelas, talvez Luxemburgo, Paris, Barcelona e Madri”, enumerou Graça no site português.
A empreitada começou por encomenda de um grupo de finlandeses que estava voltando do Brasil e teve de parar em Lisboa. “Eu ia vender meu carro para eles viajarem, mas não pude fazer o negócio porque era sábado. Então, alugaram um e meu amigo está dirigindo”, contou Graça por e-mail. Na parceria, ele gerencia os anúncios em diversos sites de carona europeus e já agenda passageiros para a viagem de volta. “Consegui vários: a primeira será uma moça que está em Estocolmo e vai de lá para a Holanda”, comemora.
Vítor Sorano
Passageiro aguarda no saguão do aeroporto de português, sem previsão de decolagem
Além dos portais especializados, os sites de relacionamento Facebook e Twitter também fizeram parte da organização de ofertas e buscas de caronas e lugares para pernoitar. No Facebook, as duas maiores comunidades de notícias e desabafos sobre os problemas enfrentados pelos viajantes têm mais de 6 mil membros cada. No Twitter, as ofertas e pedidos de ajuda são monitorados com as hashtags (palavras-chave) em inglês #takemehome (“leve-me para casa”) e #putmeup (“inclua-me”).
Tentando driblar a escalada de preços de passagens e hospedagem em função do caos – e organizar a informação dispersa na rede – dois estudantes da Suécia criaram o Volcanohelp.com, para reunir informações sobre as alternativas de transporte no continente. Além destes, existe ainda o Hitchwiki.org, que recebe contribuições dos próprios usuários sobre caronas no mundo inteiro, em formato colaborativo.
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